sábado, 13 de maio de 2006

Ao adormecer...

Quanto sabe a flor! Sabe ser branca
quando é jasmim, e roxa quando é lírio.
Sabe abrir o botão
sem reservar doçuras para si,
ao olhar ou à abelha.
Permite sorridente
que se faça mel com sua alma.
Quanto sabe a flor! Sabe deixar-se
colher por ti, para que tu a leves,
erguida, em teu peito numa noite.
Sabe fingir, quando no dia seguinte
de ti a afastas, que não é a mágoa
por tu a abandonares que a faz murchar.
Quanto sabe a flor! Sabe o silêncio;
e possuindo uns lábios tão formosos
sabe calar o «ai!» e o «não», e ignora
a negativa e o soluço.
Quanto sabe a flor! Sabe entregar-se,
dar, dar tudo o que é seu a quem a quer,
sem pedir mais que isso: que lhe queira.
Sabe, simplesmente sabe, amor.

Pedro Salinas
Trad. de José Bento

5 comentários:

Anónimo disse...

Gostei muito de ler...bj Numenesse

Clotilde S. disse...

Parabéns pelo bom gosto, na escolha deste poema florido. Vim desejar-te um bom domingo.
Beijinhos

isabel mendes ferreira disse...

a beleza de dar....sem ser por nada. dar. apenas.



gostei.


beijo.

Maria P. disse...

Obrigada e boa semana para vós.
beijinhos

Maria P. disse...

Às flores ou aos sentimentos.