domingo, 29 de abril de 2007

Da janela sul...

afinco celestial

Ao meditar...

O Passado como base para o Presente
O tempo, na sua marcha, utiliza e destrói o que é temporal. Também nele existe mais eternidade no passado que no presente. Valor da história efectivamente cumprida, semelhante à da recordação em Proust. Deste modo, o passado apresenta-nos qualquer coisa que é, simultaneamente, real e melhor que nós, e que pode empurrar-nos para cima, coisa que o futuro nunca faz.

Simone Weil
A Gravidade e a Graça

sábado, 28 de abril de 2007

Outra janela...

pausa

Aforas

Gosto de olhar o Céu, sentir que a tua nuvem caminha ao ritmo do rio no Outono, serenamente...

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Da janela sul...

imprevisto

Ao amanhecer ...

Este foi o nosso último abraço. E quando,
daqui a nada, deixares o chão desta casa
encostarei amorosamente os lábios ao teu copo
para sentir o sabor desse beijo que hoje não
daremos. E então, sim, poderei também eu
partir, sabendo que, afinal, o que tive da vida
foi mais, muito mais, do que mereci.


Maria do Rosário Pedreira
O Canto do Vento nos Ciprestes

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Na última gaveta...

Bilhete-postal
s.d.

... era uma vez

A lenda do Arripiado
Reza a história que durante as invasões Mouras, perto do Castelo de Almourol, habitava um casal que tinha uma linda filha, de seu nome Ari.
Um dia em passeio pela beira das águas que ilham o Castelo, encontraram um robusto e bonito rapaz, que olhou a formosa Ari e por ela se enamorou. Este amor era cada vez mais intenso e correspondido, claro queriam estar juntos. Porém os pais de Ari não queriam este namoro e proibiram-na de sair à rua, para impedir uma fuga de Ari, piaram-na (prender uma corda à perna e a um objecto).
E desta pobre Ari piada veio a surgir o nome Aripiada, que com o decorrer do tempo resultou em Arripiado.
O namoro dos jovens um segredo guardado nas pedras do Castelo, a descobrir...

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Ao entardecer...

rumo

HOJE

Última Página

Vou deixar este livro. Adeus.
Aqui morei nas ruas infinitas.
Adeus meu bairro página branca
onde morri onde nasci algumas vezes.

Adeus palavras comboios
adeus navio. De ti povo
não me despeço. Vou contigo.
Adeus meu bairro versos ventos.

Não voltarei a Nambuangongo
onde tu meu amor não viste nada. Adeus
camaradas dos campos de batalha.
Parto sem ti Pedro Soldado.

Tu Rapariga do País de Abril
tu vens comigo. Não te esqueças
da primavera. Vamos soltar
a primavera no País de Abril.

Livro: meu suor meu sangue
aqui te deixo no cimo da pátria
Meto a viola debaixo do braço
e viro a página. Adeus.

Manuel Alegre

terça-feira, 24 de abril de 2007

Da janela norte...

um poema

voz do povo

O tempo da razão vem com a própria estação.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Outra janela...

refúgio

O Livro

O sol morria na linha do horizonte. O azul de cima tornava-se mais opaco e o de baixo iluminava-se com os últimos raios. Abria-se uma estrada luminosa, recta, aurifulgente, do navio ao astro decapitado. Amarelecia a espuma e dir-se-ia que algumas ondas se formavam e subiam apenas para receber o derradeiro beijo da luz.
Na primeira classe, ao longo do convés, em cadeiras de lona e de vime, estendiam-se, indolentemente, corpos de gentes afortunadas - um livro entre as mãos ou uma «écharpe» tremulando. E do salão de música saía, vibrava um instante no espaço e apagava-se depois, um trecho de ópera.
Na terceira, constituíam-se grupos, homens e mulheres, cabeças pendidas pela saudade, xailes, rostos de crianças, seios ao léu, numa promiscuidade cigana. «Tomara já chegar! E o futuro? E o futuro? Que irá suceder?».

domingo, 22 de abril de 2007

Na última gaveta...

Bilhete-postal
[1945? ]

... era uma vez

Sete saias
As sete saias fazem parte da tradição, do mito e das lendas da Nazaré tão intimamente ligada ao mar. Diz o povo que representam as sete virtudes; os sete dias da semana; as sete cores do arco-íris; as sete ondas do mar, entre outras atribuições bíblicas, míticas e mágicas que envolvem o número sete. A sua origem não é de simples explicação. No entanto, num ponto todos parecem estar de acordo: as várias saias (sete ou não) da mulher da Nazaré estão sempre relacionadas com a vida do mar. As nazarenas tinham o hábito de esperar os maridos e filhos, da volta da pesca, na praia, sentadas no areal, passando aí muitas horas de vigília. Usavam as várias saias para se cobrirem, as de cima para protegerem a cabeça e ombros do frio e da maresia e as restantes a taparem as pernas, estando desse modo sempre compostas.
O uso de várias saias pelas mulheres da Nazaré também está ligado à harmonia das linhas femininas: cintura fina e ancas arredondadas, a sugerir a dança do mar nas beleza das suas ondas...

sábado, 21 de abril de 2007

sexta-feira, 20 de abril de 2007

1 2 3, diz outra vez!

Lá vai uma, lá vão duas,
três pombinhas a voar,
uma é minha, outra é tua,
outra é de quem a apanhar.

Sete e sete, são catorze,
com mais sete são vinte e um,
tenho sete namorados,
e não gosto de nenhum.

Lá vai uma, lá vão duas,
três pombinhas a voar,
uma é minha, outra é tua,
outra é de quem a apanhar.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Outra janela...

sintonias

Ao anoitecer...

Quase de nada místico
Não, não deve ser nada este pulsar
de dentro: só um lento desejo
de dançar. E nem deve ter grande
significado este vapor dourado,

e invisível a olhares alheios:
só um pólen a meio, como de abelha
à espera de voar. E não é com certeza
relevante este brilhante aqui:

poeira de diamante que encontrei
pelo verso e por acaso, poema
muito breve e muito raso,
que (aproveitando) trago para ti.

Ana Luísa Amaral

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Blogues que me fazem pensar...

A Maria do blogue O Cheiro da Ilha tive a gentileza de considerar a Casa de Maio como um blogue que a faz pensar.
É uma honra, obrigada Maria.
Este desafio que circula por este mundo-net implica a nomeação de cinco blogues que me façam pensar. Todos conhecem o meu gosto pela fotografia, assim não querendo minimizar em nada todos os que fazem parte desta Casa, escolho cinco blogues ligados à imagem, não vou indicar razões particulares para nenhum, apenas o meu prazer em visualizar instantes de cada olhar.

Os cinco:

Diafragma
Foto Diário
Labirinto de Olhares
Pestana da Madeira
656 Fotografias

- O desafio fica lançado para os nomeados e a todos os Amigos da Casa.
Nota:
Mais uma vez a Casa de Maio foi escolhida como um dos blogues que fazem pensar, aqui deixo o meu agradecimento ao Poetaeusou .
Nota 1:
De novo a Casa de Maio foi eleita, agradeço mais uma vez o carinho, obrigada ao O meu mundo.

terça-feira, 17 de abril de 2007

Da janela norte...

meu silêncio - tarde

Aforas

Sou-O ? Não sei... mas se tu o dizes, sou.
Enigma.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Da janela sul...

meu silêncio - manhã

voz do povo

Água silenciosa é sempre perigosa.

domingo, 15 de abril de 2007

Outra janela...

era uma vez...

Ao entardecer...

Bilhete

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

Mário Quintana

sábado, 14 de abril de 2007

sexta-feira, 13 de abril de 2007

mitos & milho-rei

Idade

Os poetas dividem o tempo em quatro idades: a do ouro, ou do reinado de Saturno, período em que reinou na terra uma perpétua primavera, e em que os homens eram puros e inocentes; a da prata, ou do reinado de Japeto, em que principiou a decadência da virtude e da pureza, foi o tempo em que Saturno passou na Itália, onde ensinou a arte de cultivar a terra, que se negava a dar frutos, devido à maldade e injustiça dos homens; seguiu-se a idade do bronze, em que libertinagem e o crime começaram a reinar; e, finalmente a idade do ferro, em que a corrupção e os crimes se alastraram, dando origem à guerra, à morte e à destruição.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Da janela norte...

o outro lado

Ao anoitecer...

Se eu pudesse dar-te aquilo que não tenho
e que fora de mim jamais se encontra
Se eu pudesse dar-te aquilo com que sonhas
e o que só por mim poderá ter sonhado

Se eu pudesse dar-te o sopro que me foge
e que fora de mim jamais se encontra
Se eu pudesse dar-te aquilo que descubro
e descobrir-te o que de mim se esconde

Então serias aquele que existe
e o que só por mim poderá ter sonhado

Ana Hatherly

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Convite

Júlia Calçada - óleo sobre tela (2007)

Um dia não dançou
O som perdeu-se, o sorriso era uma sombra
nas muralhas que se lançavam em cada onda.
Apenas a melodia no cair da noite, eco em cada sonho,
o sonho do rodopiar.
Rodopiar um passado, sem presente.
Descalça
Passos
Sapatilhas
Fios, soltos
Mãos sem gestos
Pés nus
Sem dança.

Resposta ao convite do blog: Thornlessrose

terça-feira, 10 de abril de 2007

Outra janela...

cais

Ao meditar...

A mentira é a base da civilização moderna.
É na faculdade de mentir, que caracteriza a maior parte dos homens actuais, que se baseia a civilização moderna. Ela firma-se, como tão claramente demonstrou Nordau, na mentira religiosa, na mentira política, na mentira económica, na mentira matrimonial, etc... A mentira formou este ser, único em todo o Universo: o homem antipático. Actualmente, a mentira chama-se utilitarismo, ordem social, senso prático; disfarçou-se nestes nomes, julgando assim passar incógnita. A máscara deu-lhe prestígio, tornando-a misteriosa, e portanto, respeitada. De forma que a mentira, como ordem social, pode praticar impunemente, todos os assassinatos; como utilitarismo, todos os roubos; como senso prático, todas as tolices e loucuras.
Teixeira de Pascoaes
A Saudade e o Saudosismo

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Na última gaveta...

Bragança

... era uma vez

Trás-os-Montes
A tradicional província justifica o nome: para quem a visita erguem-se os montes, que são montanhas. Subir da Beira, e chegar aos níveis planálticos, o olhar vem despenhar-se nas ladeiras e para o leito fundo em que corre o Douro.
Os cumes das serras recortam-se no horizonte, longe as capelas, onde, na época própria, acode o povo em romaria. Os cabeços dos montes cobrem-se de arvoredo: castanheiros, carvalhos, pinheiros, descem as vertentes.
Nas clareiras aconchegam-se aldeias, com as igrejas brancas no meio do casario, distantes umas das outras, tudo é longe, porque o relevo a isso obriga.
Os primeiros monumentos desta região são as montanhas de relevo singular no perfil da terra, depois vem o Homem, o Transmontano, leal e amigo, mas: para cá do Marão, mandam os que cá estão!

domingo, 8 de abril de 2007

Da janela sul...

jangada

Ao entardecer...

Chamo-Te
Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.

Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só de Teus olhares me purifique e acabe.

Há muitas coisas que não quero ver.

Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o Teu reino antes do tempo venha
E se derrame sobre a Terra
Em Primavera feroz precipitado.

Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, 6 de abril de 2007

A todos...

DESEJO UMA PÁSCOA FELIZ

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Outra janela...

o começo

Ao meditar...

O meu mundo tem estado à tua espera; mas
não há flores nas jarras, nem velas sobre a mesa,
nem retratos escondidos no fundo das gavetas. Sei

que um poema se escreveria entre nós dois; mas
não comprei o vinho, não mudei os lençóis,
não perfumei o decote do vestido.

Se ouço falar de ti, comove-me o teu nome
(mas nem pensar em suspirá-lo ao teu ouvido);
se me dizem que vens, o corpo é uma fogueira -
estalam-me brasas no peito, desvairadas, e respiro
com a violência de um incêndio; mas parto
antes de saber como seria. Não me perguntes

porque se mata o sol na lâmina dos dias
e o meu mundo continua à tua espera:
houve sempre coisas de esguelha nas paisagens
e amores imperfeitos - Deus tem as mãos grandes.

Maria do Rosário Pedreira
O Canto do Vento nos Ciprestes

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Da janela norte...

cativa

Aforas

Gosto de me perder na alegria da tarde, na claridade pura que dança pelo ar envolta em sonho.
E sonho.

terça-feira, 3 de abril de 2007

Na última gaveta...

Colares
Gravura, s.d.

voz do povo

Abril chuvoso, Maio ventoso e Junho amoroso, fazem um ano formoso.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Da janela sul...

ousar nascer

... era uma vez

Padre Max
Maximino Barbosa de Sousa, 32 anos e Maria de Lurdes Pereira de 19 anos, estudante, tiveram um fim trágico no dia 2 de Abril de 1976, o carro em que ambos seguiam foi alvo de uma ataque bombista, matando-os.
Um depoimento pessoal e único pode ser lido aqui:

domingo, 1 de abril de 2007

Ao anoitecer...

Chove...
Mas isso que importa!
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?

Chove...
Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.

José Gomes Ferreira

Ao amanhecer ...

o segredo dos botões