quinta-feira, 31 de maio de 2007

Da janela norte...

sinais

... era uma vez

A Aldeia
Por cima de muitas das portas da aldeia vêem-se ainda algumas pequenas cruzes, diz-se, para afastar a trovoada. No domingo de Ramos os fiéis levam um ramo de oliveira para benzer e, nas noites de tempestade, fazem com ele uma cruz que é posta em cima das brasas da lareira ou na porta principal, invocando assim a protecção de Santa Bárbara para afastar a trovoada.

Piódão -Terras do Fim do Mundo

Coord. Ana Paula Martins Bernardo

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Outra janela...

o outro lado II

Ao amanhecer ...

Um dia branco
Dai-me um dia branco, um mar de beladona
Um movimento
Inteiro, unido, adormecido
Como um só momento.

Eu quero caminhar como quem dorme
Entre países sem nome que flutuam.

Imagens tão mudas
Que ao olhá-las me pareça
Que fechei os olhos.

Um dia em que se possa não saber.

Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Da janela sul...

ensamble a negro


Ao anoitecer...

I
Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...

Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...

Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!

Mário Quintana

domingo, 27 de maio de 2007

Outra janela...

tempo de ser...

Ao meditar...

Lugares com Ecos do Passado
Tanto ou mais que as pessoas, os lugares vivem e morrem. Com uma diferença: mesmo se já mortos, os lugares retêm a vida que os animou. No silêncio, sentimos-lhes os ouvidos vigilantes ou o rumor infatigável dos ecos ensurdecidos.

Fernando Namora

in «Jornal sem Data»

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Outra janela...

sem retorno

Ao entardecer...

Olho-te e não me vês. A primavera vigia
a floração das malvas e o girassol retribui
os favores da luz. Eu sento-me onde acho

que vai estar a tua sombra. E, como a dor
que persegue a ferida, vejo-te quando passas,
mas vejo-te melhor quando não passas. Tu

não me vês; caminhas na geometria vã de
uma linha sem pontos; às vezes parece que
alguma coisa te detém e viras-te - talvez
então me chames dentro de ti, talvez até
me olhes. Mas não me vês.

Maria do Rosário Pedreira
Nenhum Nome Depois

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Da janela sul...

barra azul

... era uma vez

Algarve
O pendor natural algarvio, em declive para o mar, recorta-o em três zonas destintas: a serra, os barrocais e o litoral. Cada uma com face própria, com as suas nebulosidades, luminosidades e clima.
O algarvio, seja o Homem da montanha, seja o agricultor dos barrocais, seja o marítimo da costa, morador nas suas casas de cal e faixadas de cores vivas, reflecte um pouco esta variedade de ambientes naturais. Dominados por uma ancestralidade moira que o entristece, de tipo sarraceno, mas diverso do andaluz, é um bom cantador, honra o mar e espelha a beleza da amendoeira em flor.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Na última gaveta...

Bilhete-postal
s.d.

Aforas

Gosto quando a cinza-névoa desce a Serra e adormece sobre a Vila.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Outra janela...

embate

Mimo para a Casa

O arquitecto das palavras Luís Rodrigues, do blog: O Murmúrio das Ondas mimou a Casa de Maio duplamente, como blog que faz pensar e para a eleição de um meme. Tal honra muito agradeço.

- Assim o meme:
Se ensinares, ensina ao mesmo tempo a duvidar daquilo que estás a ensinar.

José Ortega y Gasset

- E agora blogs que me fazem pensar:
Infinito Pessoal
Largo da Memória
Papel de Fantasia
Pontos de Vista
Relógio de Pêndulo

E siga a roda! Quem quiser...

domingo, 20 de maio de 2007

Da janela norte...

entre o verde e o granito - cruz

voz do povo

Não há ausentes sem culpas, nem presentes sem desculpas.

sábado, 19 de maio de 2007

Da janela sul...

espera

Ao entardecer...

Os gatos resguardam-se da chuva.
Alguém diz o teu nome à janela,
olhando as aves que partem para o sul.

Há uma memória embaciada de outro outono,
cinzas no pátio,
o cheiro de alguma coisa que morre, mas não dói.

Maria do Rosário Pedreira
A Casa e o Cheiro dos Livros

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Outra janela...

prolongamento

... era uma vez

O Dia da Espiga

Tradicionalmente, de manhã cedo, rapazes e raparigas vão ao campo apanhar o ramo de espiga.
Cada elemento simboliza um desejo.

A Espiga: que haja pão.
A Oliveira: que haja paz.

As Flores:
Malmequer: ouro e prata;
Papoila: amor;
Alecrim: saúde e força.

terça-feira, 15 de maio de 2007

«Lindíssima, Shakespeariana, Hitchcockiana...genuinamente Maria P.»

Obrigada Amigo S.
(estejas onde estiveres)

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Outra janela...

rasgos na era

voz do povo

Todo o sapato lindo dá em chinelo velho.

domingo, 13 de maio de 2007

Da janela norte...

casa da ribeira

Ao meditar...

As casas
As casas habitadas são belas
se parecem ainda uma casa vazia
sem a pretensão de ocupá-las
tornam-se ténues disposições
os sinais da nossa presença:
um livro
a roupa que chegou da lavandaria
por arrumar em cima da cama
o modo como toda a tarde a luz foi
entregue ao seu silêncio.

Em certos dias, nem sabemos porquê
sentimo-nos estranhamente perto
daquelas coisas que buscamos muito
e continuam, no entanto, perdidas
dentro da nossa casa.

José Tolentino Mendonça

sábado, 12 de maio de 2007

Para ti...

Eu vim de longe...
Quando o avião aqui chegou
quando o mês de Maio começou
eu olhei para ti
então entendi
foi um sonho mau que já passou
foi um mau bocado que acabou

Tinha esta viola numa mão
uma flor vermelha n'outra mão
tinha um grande amor
marcado pela dor
e quando a fronteira me abraçou
foi esta bagagem que encontrou

Eu vim de longe
de muito longe
o que eu andei p'ra'qui chegar
Eu vou p'ra longe
p'ra muito longe
onde nos vamos encontrar
com o que temos p'ra nos dar

E então olhei à minha volta
vi tanta esperança andar à solta
que não exitei
e os hinos cantei
foram feitos do meu coração
feitos de alegria e de paixão

Quando a nossa festa s'estragou
e o mês de Novembro se vingou
eu olhei p'ra ti
e então entendi
foi um sonho lindo que acabou
houve aqui alguém que se enganou

Tinha esta viola numa mão
coisas começadas noutra mão
tinha um grande amor
marcado pela dor
e quando a espingarda se virou
foi p'ra esta força que apontou

José Mário Branco
Nota:
Na caixa de comentários, graças ao Pedro Branco, está a letra completa, é só ir ver.
Obrigada Pedro.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Da janela sul...

evasão

«Meme»

Mais um desafio, mais um passa-a-bola a circular neste net-mundo, eu recebi a bola do:O Cheiro da Ilha e terei de passar a outros seis jogadores para o jogo do meme* continuar.
Um *meme é um "gen ou gene cultural" que envolve algum conhecimento que passas a outros contemporâneos ou a teus descendentes. Os memes podem ser ideias ou partes de ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autónoma. Simplificando: é um comentário, uma frase, uma ideia que rapidamente é propagada pela Web, usualmente por meio de blogues. O neologismo "memes" foi criado por Richard Dawkins dada a sua semelhança fonética com o termo "genes".

Chega sempre a hora em que não basta apenas protestar: após a filosofia, a acção é indispensável .
Victor Hugo

Agora passo a bola a:
Andando e pensando
O meu mundo
Palavras Previamente Ensaiadas
Pé de meia...
Poetaeusou
Rosa dos Ventos
O jogo está lançado se mais alguém quiser jogar, força!

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Na última gaveta...


Bilhete-postal
s.d.

1 2 3, diz outra vez!

Quem quiser cantar com arte,
Cante a pena que sofrer
A mesma pena o fará
Cantar bem, sem o saber.
Quadra popular.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Outra janela...

entardeço

Ao anoitecer...

Descem os socalcos
aureoladas pela luz
andam a luz salpica
como dardos

Malvasia
mourisca
dona branca
formosa

As deusas voltaram à terra
das vides enfeitam os lábios
com os bagos vermelhos

António Borges Coelho

segunda-feira, 7 de maio de 2007

voz do povo

Quem trabalha e mata a fome
Não come o pão de ninguém
Quem come o que não trabalha
Come sempre o pão de alguém

domingo, 6 de maio de 2007

Da janela norte...

dominó

... era uma vez

A Aldeia

Ruas estreitas e sinuosas abrem-se aqui e além em recantos diversificados. Solta-se a vista do chão de xisto, quando ao fundo se ouvem as águas da ribeira do Piódão, entrecruzadas pelo chilrear cristalino da passarada.
Esbarra então o olhar, nas paredes escuras do casario, para enfim se elevar pela montanha que domina, até cume quase coberto pelas nuvens.

Piódão - Terras do Fim do Mundo
Coord. Ana Paula Martins Bernardo

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Outra janela...

doce tarde

Ao anoitecer...

Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.

Manuel António Pina

De novo...

Não tencionava voltar a este movimento simpático entre blogues, mas depois da primeira nomeação como blogue que faz pensar, outros Amigos mencionaram a Casa de Maio. Assim o meu agradecimento ao:
Poetaeusou
ao:
O meu mundo
e ao:
Andando e pensando
Muito obrigada.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Da janela norte...

infinito

voz do povo

Maio ventoso faz o ano formoso.

Para mim...

...hoje

terça-feira, 1 de maio de 2007

O TEMPO DE MAIO

Maio é o tempo da perfeita harmonia.
Trajado de negro, mal rompe a luz
O melro canta uma canção de clara alegria.
Nos campos se abraçam as flores e as cores.

O cuco saúda o verão majestoso com galhardia.
Passou o tempo dos dias ruins, a brisa é doçura.
No bosque as árvores de folhas se vestem
E se foram nuas agora são sebe de verde espessura.

O verão vem chegando e corre sem pressa a água no rio.
Manadas ligeiras nas águas mansas a sede saciam.
Na encosta dos montes se espalha o azul do cabelo da urze.
E frágil e branca se abre a flor do linho silvestre.

A pequena abelha, de fraco poder, carrega em seus pés
Rica colheita oculta em flores. O gado pasta ne erva tenra
Dos verdes prados. Na sua tarefa não há fadiga
A formiga vai e depois vem para logo ir e nunca parar.

Nos bosques a harpa tange melodias, música de paz
Que acalma a tormenta que o lago agitara.
E o barco balouça de velas dormidas
Envolto na bruma da cor das flores do tempo de Maio.

Na seara escondida, e de sol a sol, solta a codorniz
Um canto de energia, como um bardo real.
Esguia e delgada, mui branca e pura, saúda a cascata,
Em murmúrio de prata, a calma serena do arroio que a bebe.

Ligeira e veloz, no céu a andorinha é um dardo negro.
Há música que paira na encosta e no vale, nos montes em volta, a cintilar.
Os frutos do verão já se anunciam em gomo formosos.
Cantam as aves na ramaria e no rio os peixes pulam e saltam.

O vigor dos homens de novo renasce e ao longe a montanha
Mostra sem medo sua glória, altiva e sem mácula.
Da crista ao chão, as árvores do bosque são uma festa
De verde e de folhas; e a planura é um lavor de cores e flores.

Os dias de Maio são de alegria e de espledor,
Quando as donzelas sorriem de orgulho pela sua beleza
E jovens guerreiros se mostram mui hábeis, ágeis e esbeltos.
Os dias de Maio o verão anunciam, o tempo é de paz.

E no céu azul há uma criatura que é ave inocente.
Pequena e frágil, de límpida voz de água clara,
Canta a cotovia maravilhas e contos, em que apenas diz
Que a perfeita harmonia é o tempo de Maio.

Cultura celta (Irlandês)
Anónimo (séc.IX-X)
Tradução: José Domingos Morais