domingo, 30 de setembro de 2007

Outra janela...


meu (a) mar

Ao anoitecer...

Dançam; Dançam

Como se no mar as ondas
não se arqueassem o bastante.

Como se na terra as pedras
não se elevassem o bastante.

Como se no ar as nuvens
não rodassem o bastante.

Como se o azul planetário
não fosse o longe bastante.

Dançam.

Fiama Hasse Pais Brandão
As Fábulas

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Da janela norte...

vinhas do povo

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

voz do povo

Muito sabe o rato; mas mais sabe o gato!

domingo, 23 de setembro de 2007

Autores...

Eram os estudantes, como são hoje, como foram sempre, aqui e em todos os países, a boémia expansiva, romanesca, irrequieta, ao mesmo tempo temida e fascinadora.
[...]
Quantas vezes não correm atrás de uma loucura, como fanáticos, e quantas buscas de um ideal, como sonhadores? Na febre doida da troça ou na irreflectida prosápia das tradições de classe, vão até à impertinência, chegam até ao motim; mas tanto os defende o prestígio da própria mocidade, que não raras vezes lhe perdoa a gente a sua irreflectida audácia.
Depois, dispersos pela sociedade, noutro meio e noutra idade, por muito que tenham subido e mudado, nunca mais se lhes apaga a consoladora saudade daquela doida boémia, em plena alegria, no doirado mundo das ilusões, que nunca mais viram, que nunca mais encontraram. É uma longínqua aurora que se lhes reflecte na alma, tanto mais saudosa quanto mais distante!
António de Campos Júnior (1850-1917)
Guerreiro e Monge - 6ª Ed. 1952

sábado, 22 de setembro de 2007

Outra janela...

rumo sem rumo

Ao amanhecer ...

A HORA DA PARTIDA

A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.

A hora da partida soa quando
As árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.

Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.

Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Da janela norte...

apenas um lugar

Ao anoitecer...

Guardava alguns silêncios e também as coisas
que não dissera por acaso. Guardava agora também
esses acasos, brancos recados entre as palavras
que lhe sobravam nas gavetas. E ainda assim guardaria
para sempre essas palavras, ou a imagem de lábios a
dizê-las - um rosto ainda sem ser triste lembrando o verão.

Teria aguardado esse verão, o cheiro quente dos morangos
à beira dos dedos. E tê-lo-ia sobretudo guardado,
como guardava agora, sem nunca o ter ouvido, o som
das espigas, na planície, à passagem do vento.

Mas agora só podia aguardar a passagem do tempo
sem palavras; ou um vento de feição, um acaso
que tudo justificasse. E no silêncio em que se ia guardando
buscava apenas um lugar mais sereno para as memórias.


Maria do Rosário Pedreira
A Casa e o Cheiro dos Livros

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Outra janela...

brinco...

1 2 3, diz outra vez!

Pardal pardo, porque palras?
Palro sempre e palrarei
Porque sou o pardal pardo
E palrador del- rei.

domingo, 16 de setembro de 2007

voz do povo

A paciência é amarga, mas o seu fruto é doce.

sábado, 15 de setembro de 2007

Da janela norte...

7 horas na Serra

Autores...

Semear, ceifar, malhar
são as três fases
essenciais da vida rural,
no fundo correspondentes
aos três tempos de tudo
o que vive e evoluciona à
superfície da terra.

Aquilino Ribeiro

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

1 2 3, diz outra vez!

Tenho um colarinho
Muito bem encolarinhado.
Foi o colarinhador
Que me encolarinhou
Este colarinho.
Vê se és capaz
De encolarinhar
Tão bem encolarinhado
Como o colarinhador
Que me encolarinhou
Este colarinho.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Da janela sul...

silêncio no tempo

Ao amanhecer ...

Uma árvore. Há muito que a viemos plantar. Hoje
as nossas mãos estremecem, procuram leves
gravuras perdidas na terra, agora humedecidas
pelo tempo que passa. Há-de ficar tudo
mais tranquilo e reconhecemos ainda a sombra
caída ao nosso lado. Este foi o segredo
que estava prometido e ainda nos pertence. Sabes
como as folhas são maiores quando as olhamos.

Fernando Guimarães
Lições de Trevas

domingo, 9 de setembro de 2007

Outra janela...

na sombra

Autores...

«Lia lentamente, juntando as sílabas, murmurando-as a meia voz como se as saboreasse, e, quando tinha a palavra inteira dominada, repetia-a de uma só vez. Depois fazia o mesmo com a frase completa, e dessa maneira se apropriava dos sentimentos e ideias plasmados nas páginas.
Quando havia uma passagem que lhe agradava especialmente, repetia-a muitas vezes, todas as que achasse necessárias para descobrir como a linguagem humana também pode ser bela.»

o velho que lia romances de amor
Luis Sepúlveda

sábado, 8 de setembro de 2007

Romance....

Nesta rentrée bloguista o jogo entre palavras e imagens começou da melhor forma mais uma vez no blogue Palavra Puxa Palavra, a palavra escolhida foi Romance. A Casa de Maio participou assim:

...cartas d'amor quem as não tem.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Na última gaveta...

Cintra
Grav. - s.d.

voz do povo

Setembro, ou seca as fontes ou leva as pontes.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Da janela norte...

fios de ferro

Ao entardecer...

ESTUDO

Através da janela
mando
a negra razão
falar com a
paisagem.

Ernest Meister (Alemanha, 1911-1979)
Trad. de João Barrento.

domingo, 2 de setembro de 2007

Outra janela...

ninho II

Autores...

MADRUGADA

Rápidas mãos frias
retiram uma a uma
as vendas da sombra
Abro os olhos
Ainda
estou vivo
No centro
de uma ferida ainda fresca.

Octavio Paz (México, 1914-1998)
Trad. de José Bento