Para Os Amigos
Bilhete para o Amigo Ausente
Lembrar teus carinhos induz
a ter existido um pomar
intangíveis laranjas de luz
laranjas que apetece roubar.
Teu luar de ontem na cintura
é ainda o vestido que trago
seda imaterial seda pura
de criança afogada no lago.
Os motores que entre nós aceleram
os vazios comboios do sonho
das mulheres que estão à espera
são o único luto que ponho.
Natália Correia
Um Homem percorre o mundo inteiro em busca daquilo que precisa e volta a casa para encontrá-lo. "George Moore"
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Cinco Poemas
Para os Amigos
Antes que Seja Tarde
Amigo, tu que choras uma angústia qualquer
e falas de coisas mansas como o luar
e paradas
omo as águas de um lago adormecido,
acorda!
Deixa de vez
as margens do regato solitário
onde te miras
como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
desse país inventado
onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
de barco ao deus-dará
e esse ar de renúncia
às coisas do mundo.
Acorda, amigo,
liberta-te dessa paz podre de milagre
que existe
apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha,
abre os braços e luta!
Amigo,
antes da morte vir
nasce de vez para a vida.
Manuel da Fonseca
Antes que Seja Tarde
Amigo, tu que choras uma angústia qualquer
e falas de coisas mansas como o luar
e paradas
omo as águas de um lago adormecido,
acorda!
Deixa de vez
as margens do regato solitário
onde te miras
como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
desse país inventado
onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
de barco ao deus-dará
e esse ar de renúncia
às coisas do mundo.
Acorda, amigo,
liberta-te dessa paz podre de milagre
que existe
apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha,
abre os braços e luta!
Amigo,
antes da morte vir
nasce de vez para a vida.
Manuel da Fonseca
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Cinco Poemas
Para os Amigos
De entre todos, apenas vós
tendes direito a ver-me
fracassar. Onde caio
entre a vossa irónica
doçura implacável, convosco
partilho o pão e o espaço
e a rapidez dos olhos
sobre o que fica (sempre)
para dar ou dizer.
E de vós me levanto
e vos levo pesando
e ardendo até onde
me ajudais a ser
melhor ou talvez
menos só.
Vítor Matos e Sá
De entre todos, apenas vós
tendes direito a ver-me
fracassar. Onde caio
entre a vossa irónica
doçura implacável, convosco
partilho o pão e o espaço
e a rapidez dos olhos
sobre o que fica (sempre)
para dar ou dizer.
E de vós me levanto
e vos levo pesando
e ardendo até onde
me ajudais a ser
melhor ou talvez
menos só.
Vítor Matos e Sá
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
domingo, 19 de dezembro de 2010
Leituras
A vida reparte-se por ciclos, cujas fronteiras são por vezes de uma perturbadora nitidez. O último talvez seja este: o que delimita a fase em nos resta administrar acaudeladamente (em alguns casos avaramente) uma sabedoria amealhada, ou em que nos preparamos para a desbaratar numa espécie de furiosa imolação.
Fernando Namora
«Jornal sem Data»
sábado, 18 de dezembro de 2010
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Palavras Roubadas...
Encontra-me na volta do tempo
enroscada pelo frio e pelo vento
a chuva a bater-me por dentro
e eu à tua espera, para o momento
Encontra-me uma vez que seja
na espuma da onda que se beija
na boca ardente que se deseja
e na memória, para que se veja
Encontra-me só mais uma vez
na volta do tempo que se desfez
no abraço que se deu mais uma vez
e na despedida, que em nós se fez
Encontra-me por fim em cada dia
na noite no vento que assobia
na rocha no mar em que perdia
toda a saudade que em nós cabia.
Encontra-me...
Maria
O Cheiro da Ilha
enroscada pelo frio e pelo vento
a chuva a bater-me por dentro
e eu à tua espera, para o momento
Encontra-me uma vez que seja
na espuma da onda que se beija
na boca ardente que se deseja
e na memória, para que se veja
Encontra-me só mais uma vez
na volta do tempo que se desfez
no abraço que se deu mais uma vez
e na despedida, que em nós se fez
Encontra-me por fim em cada dia
na noite no vento que assobia
na rocha no mar em que perdia
toda a saudade que em nós cabia.
Encontra-me...
Maria
O Cheiro da Ilha
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
domingo, 12 de dezembro de 2010
Leituras...
Balada para um Homem na Multidão
Este homem que entre a multidão
enternece por vezes destacar
é sempre o mesmo aqui ou no japão
a diferença é ele ignorar.
Muitos mortos foram necessários
para formar seus dentes um cabelo
vai movido por pés involuntários
e endoidece ser eu a percebê-lo.
Sentam-no à mesa de um café
num andaime ou sob um pinheiro
tanto faz desde que se esqueça
que é homem à espera que cresça
a árvore que dá dinheiro.
Alimentam-no do ar proibido
de um sonho que não é dele
não tem mais que esse frasco de vidro
para fechar a estrela do norte.
E só o seu corpo abolido
lhe pertence na hora da morte.
Natália Correia
«O Vinho e a Lira»
Este homem que entre a multidão
enternece por vezes destacar
é sempre o mesmo aqui ou no japão
a diferença é ele ignorar.
Muitos mortos foram necessários
para formar seus dentes um cabelo
vai movido por pés involuntários
e endoidece ser eu a percebê-lo.
Sentam-no à mesa de um café
num andaime ou sob um pinheiro
tanto faz desde que se esqueça
que é homem à espera que cresça
a árvore que dá dinheiro.
Alimentam-no do ar proibido
de um sonho que não é dele
não tem mais que esse frasco de vidro
para fechar a estrela do norte.
E só o seu corpo abolido
lhe pertence na hora da morte.
Natália Correia
«O Vinho e a Lira»
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Outra Janela...
domingo, 28 de novembro de 2010
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Autores
Não me peçam razões...
Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queira: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.
Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.
Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.
José Saramago
«Os Poemas Possíveis»
Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queira: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.
Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.
Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.
José Saramago
«Os Poemas Possíveis»
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
sábado, 20 de novembro de 2010
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Leituras
A noção de experiência é complexa.
Todo o espaço é de vidro - um vidro que não parte por fora mas parte por dentro. Estamos sempre a esbarrar com invisíveis barreiras. O que ele revela não é precisamente o que queremos saber. E se tivermos os olhos abertos até ao fim: vemos o quê? Como o espaço, o tempo não revela nada de especial. Só percursos.
Folhas de uma agenda descartável.
Ana Hatherly
«Tisanas»
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
sábado, 13 de novembro de 2010
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Págª 107

- Você, então, é monárquico mesmo?
- Fui, fui.
- Ah, aderiu à república?
- Não. Hoje não me satisfaz nem uma coisa nem outra.
- Então?
- É um desejo que tenho de justiça para todos.
Sem dúvida, a humanidade está longe ainda da elevação colectiva que eu sonho para ela. Mas a elevação é coisa tão lenta e a vida de cada um tão pequena, que eu, às vezes, penso que a sede de justiça que há por toda a parte acabará por marchar à frente...
Penso que têm razão os que querem um mundo mais justo.
Ferreira de Castro
«A Selva»
sábado, 6 de novembro de 2010
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Palavras Roubadas...
O sentido do sentido das coisas
As coisas sem sentido
Sentir as coisas que não fazem sentido
Ir na corrente sem sentido
Faz sentido ir na corrente do sentido?
Como parar uma corrente sem sentido?
As coisas, o sentido, a corrente...
faz sentido?
O sentido das coisas
É não terem sentido nenhum?
Só faz sentido fazer as coisas se tiverem sentido?
A toda a pressa para lado nenhum?
João P.
Blogue: Como se de um diário se tratasse...
As coisas sem sentido
Sentir as coisas que não fazem sentido
Ir na corrente sem sentido
Faz sentido ir na corrente do sentido?
Como parar uma corrente sem sentido?
As coisas, o sentido, a corrente...
faz sentido?
O sentido das coisas
É não terem sentido nenhum?
Só faz sentido fazer as coisas se tiverem sentido?
A toda a pressa para lado nenhum?
João P.
Blogue: Como se de um diário se tratasse...
terça-feira, 2 de novembro de 2010
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
sábado, 23 de outubro de 2010
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Págª 107

Miguel Torga
«Diário (1943)»
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
sábado, 16 de outubro de 2010
Palavras Roubadas...
Hoje Fico à Tua Espera
Hoje fico à tua espera.
Pego em giz colorido
E desenho uma porta, a castanho.
Recorto uma chave de papel,
Pego nela e abro a porta.
Depois, com giz cinzento
Desenho uma estrada muito comprida
Ponho árvores verdinhas nas bermas,
Papoilas vermelhas nos campos
E um rebanho a pastar.
Com o giz azul faço um rio e peixes.
Em tons de musgo, pinto um velho barco
Parado na margem.
Ao longe, espalho pó roxo e rosa
Na curva das montanhas, perto do céu.
Por fim, faço um grande sol amarelo.
Não pinto nenhuma nuvem,
Nem branca nem cinzenta
Pode chover
E não quero que te molhes
Quando vieres.
Hoje fico à tua espera
Quero dar-te o meu desenho.
Lídia Borges
Blogue: Searas de Versos
Hoje fico à tua espera.
Pego em giz colorido
E desenho uma porta, a castanho.
Recorto uma chave de papel,
Pego nela e abro a porta.
Depois, com giz cinzento
Desenho uma estrada muito comprida
Ponho árvores verdinhas nas bermas,
Papoilas vermelhas nos campos
E um rebanho a pastar.
Com o giz azul faço um rio e peixes.
Em tons de musgo, pinto um velho barco
Parado na margem.
Ao longe, espalho pó roxo e rosa
Na curva das montanhas, perto do céu.
Por fim, faço um grande sol amarelo.
Não pinto nenhuma nuvem,
Nem branca nem cinzenta
Pode chover
E não quero que te molhes
Quando vieres.
Hoje fico à tua espera
Quero dar-te o meu desenho.
Lídia Borges
Blogue: Searas de Versos
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Outra Janela...
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Da Janela Sul...
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Leituras
Amar Teus Olhos
Podia com teus olhos
escrever a palavra mar.
Podia com teus olhos
escrever a palavra amar
não fossem amor já teus olhos.
Podia em teus olhos navegar
conjugar os verbos dar e receber.
Podia com teus olhos
escrever o verbo semear
e ser tua pele
a terra de nascer poema.
Podia com teus olhos escrever
a palavra além ou aqui
ou a palavra luar,
recolher-me em teus olhos de lua
só teus olhos amar.
Podia em teus olhos perder-me
não fossem, amor, teus olhos,
o tempo de achar-me.
Carlos Melo Santos
«Lavra de Amor»
Podia com teus olhos
escrever a palavra mar.
Podia com teus olhos
escrever a palavra amar
não fossem amor já teus olhos.
Podia em teus olhos navegar
conjugar os verbos dar e receber.
Podia com teus olhos
escrever o verbo semear
e ser tua pele
a terra de nascer poema.
Podia com teus olhos escrever
a palavra além ou aqui
ou a palavra luar,
recolher-me em teus olhos de lua
só teus olhos amar.
Podia em teus olhos perder-me
não fossem, amor, teus olhos,
o tempo de achar-me.
Carlos Melo Santos
«Lavra de Amor»
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Leituras
Sob o Azul
o primeiro nome da terra
e todos os lugares de véspera
sob o azul
na pedra
transbordando
sob o azul dessa brancura
a que darei voo
pétala
um só prelúdio de onda
e as moradas do tempo
como nas lágrimas
fonte
e infinito
Marta Fialho
in «O escritor» nº24/25 -Dez.2009
o primeiro nome da terra
e todos os lugares de véspera
sob o azul
na pedra
transbordando
sob o azul dessa brancura
a que darei voo
pétala
um só prelúdio de onda
e as moradas do tempo
como nas lágrimas
fonte
e infinito
Marta Fialho
in «O escritor» nº24/25 -Dez.2009
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Págª 107
Mas não há nada tão decepcionante como desvendar um mistério. É como desvendar o truque de um prestigitador. Ficamos irritados retrospectivamente connosco por ter visto um mistério onde não havia. O mistério deve preservar-se para salvaguardarmos o respeito e o medo e haver ordem no mundo.
«Até ao Fim»
Vergílio Ferreira
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Da Janela Norte...
«Harmonioso vulto que em mim se dilui.
Tu és o poema
e és as origem donde ele flui.
Intuito de te ter. Intuito de amor
não compreendido.
Fica assim amor. Fica assim intuito.
Prometido.»
Natália Correia, in "O Livro dos Amantes"
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
sábado, 21 de agosto de 2010
Autores
Neste corpo, a densa neblina, quase um hábito,
lentamente descida, sedimento e sede,
subtilmente o acalma. Ancora que se desloca,
movediça e infirme. Só no olhar, além
da luz e da cal, se distinguem os desejos
e a mestria das palavras. E não há remos
nem astros. Convido a neblina a esta
mesa de chumbo, onde nada levanta o fogo
solar ou os signos se alteiam. É a hora
em que o corpo treme e a sombra lavra as frouxas
manhãs. O que serão as tardes, sob a névoa,
quando o vigor agoniza e o vão das águas abre
o caos e os ecos? Estaremos em paz,
usando a palavra, última herdeira das areias.
Orlando Neves
«Decomposição - o Corpo»
lentamente descida, sedimento e sede,
subtilmente o acalma. Ancora que se desloca,
movediça e infirme. Só no olhar, além
da luz e da cal, se distinguem os desejos
e a mestria das palavras. E não há remos
nem astros. Convido a neblina a esta
mesa de chumbo, onde nada levanta o fogo
solar ou os signos se alteiam. É a hora
em que o corpo treme e a sombra lavra as frouxas
manhãs. O que serão as tardes, sob a névoa,
quando o vigor agoniza e o vão das águas abre
o caos e os ecos? Estaremos em paz,
usando a palavra, última herdeira das areias.
Orlando Neves
«Decomposição - o Corpo»
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Autores
«Esta é a verdade: a vida começa quando a gente compreende que ela não dura muito.»
Millôr Fernandes
Millôr Fernandes
sábado, 14 de agosto de 2010
Outra Janela...
sábado, 10 de julho de 2010
domingo, 4 de julho de 2010
quinta-feira, 1 de julho de 2010
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