quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

2010






Sê alegre apenas depois de dares a volta à vida toda. E regressares então a uma flor, ao sol num muro, a um verme no chão. A profunda alegria não é a do começo mas a do fim.

Vergílio Ferreira


sábado, 26 de dezembro de 2009

Da janela sul...

numa serena serenata serenou...

Autores

Um dia

Um dia, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tão cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais.

O vento levará os mil cansaços
Dos gestos agitados irreais
E há-de voltar aos nosso membros lassos
A leve rapidez dos animais.

Só então poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais na voz do mar
E em nós germinará a sua fala.

Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, 19 de dezembro de 2009

A Todos...


...

As palavras de amizade e conforto podem ser curtas e sucintas, mas o seu eco é infindável.


Madre Teresa de Calcutá

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Da janela norte...

gelou...

Autores

A Forma Justa

Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
— Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo

Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Da janela sul...

branco solto...

Autores

Quem faz um poema abre uma janela.

Mário Quintana

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Obrigada...

Obrigada a:
Elzie Crisler Segar
(8 de Dezembro de 1894) foi um cartonista, mais conhecido por ser o criador de Popeye, personagem que apareceu pela primeira vez numa tirinha cómica no seu jornal em 1929.

Adoro o Popeye!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Outra janela...

para lá do olhar...

Autores

Vida

Sempre a indesencorajada alma do homem
resoluta indo à luta.
(Os contingentes anteriores falharam?
Pois mandaremos novos contingentes
e outros mais novos.)
Sempre o cerrado mistério
de todas as idades deste mundo
antigas ou recentes;
sempre os ávidos olhos, hurras, palmas
de boas-vindas, o ruidoso aplauso;
sempre a alma insatisfeita,
curiosa e por fim não convencida,
lutando hoje como sempre,
batalhando como sempre.

Walt Whitman

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Da janela norte...

Por lá
onde o frio aquece a saudade
onde o vento alinha o sentir
onde o branco pinta sorrisos...
Por lá
abrigo-me na montanha...

Maria P.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

domingo, 22 de novembro de 2009

Outra janela...

sem horizonte...

Leituras...

Tentar provar o futuro é muito mais interessante do que poder conhecê-lo. Como no jogo, não o ganhar, mas o poder ganhar. Porque nenhuma vitória se ganha se se não puder perder.

Vergílio Ferreira

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Da janela norte...

poema sem cor


Autores

A Cor da Liberdade

Não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.

Eu não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei-de morrer sem saber.

Trocaram tudo em maldade,
é quase um crime viver.
Mas, embora encondam tudo
e me queiram cego e mudo,
não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.

Jorge de Sena

sábado, 14 de novembro de 2009

Outra janela...

Há não sei que semelhança entre a eloquência e o raio. O raio abrasa, pulveriza quase sem queimar; a eloquência quase sem persuadir.

Camilo Castelo Branco

domingo, 8 de novembro de 2009

Da janela norte...

tempo embriagado...

Autores

O Tempo Torna Tudo Irreal

O tempo, propriamente dito, não existe (excepto o presente como limite), e, no entanto, estamos submetidos a ele. É esta a nossa condição. Estamos submetidos ao que não existe. Quer se trate da duração passivamente sofrida - dor física, esperança, desgosto, remorso, medo -, quer do tempo organizado - ordem, método, necessidade -, nos dois casos, aquilo a que estamos submetidos, não existe. Estamos, realmente, presos por correntes irreais. O tempo, irreal, cobre todas as coisas e até nós mesmos, de irrealidade.

Simone Weil
«A Gravidade e a Graça»

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Outra janela...

abraço-te...

Autores

Um Amor
Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão,
puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada ~
recordação.

Nuno Júdice

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

III

sinais de Outono...

Poesia...

Só a Natureza é Divina, e Ela não é Divina...

Só a natureza é divina, e ela não é divina...
Se falo dela como de um ente
É que para falar dela preciso usar da linguagem dos
homens
Que dá personalidade às cousas,
E impõe nome às cousas.
Mas as cousas não têm nome nem personalidade:
Existem, e o céu é grande a terra larga,
E o nosso coração do tamanho de um punho fechado...
Bendito seja eu por tudo quanto sei.
Gozo tudo isso como quem sabe que há o sol.


Alberto Caeiro
«O Guardador de Rebanhos - Poema XXVII»

terça-feira, 20 de outubro de 2009

II

sinais de Outono...


Voz do Povo


Logo que Outubro venha, procura a lenha.

domingo, 18 de outubro de 2009

I

sinais de Outono...

Autores

Há pequenas impressões finas como um cabelo e que, uma vez desfeitas na nossa mente, não sabemos aonde elas nos podem levar. Hibernam, por assim dizer, nalgum circuito da memória e um dia saltam para fora, como se acabassem de ser recebidos. Só que, por efeito desse período de gestação profunda, alimentada ao calor do sangue e das aquisições da experiência temperada de cálcio e de ferro e de nitratos, elas aparecem já no estado adulto e prontas a procriar. Porque as memórias procriam como se fossem pessoas vivas.

Agustina Bessa-Luís, in «Antes do Degelo»

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

...abraço

Recebi um abraço da As velas ardem sempre até ao fim...
Obrigada:)

Com o abraço,... um desafio, este:

1 - Quem mais gostas de abraçar no presente?

O bloguista deste preguiçoso blogue -Estou a brincar...


2 - Quem nunca abraçarias?

Ui! É melhor não dizer...


3 - Quem davas tudo para poder abraçar?

Abraçar de novo, a minha Mãe.

Deixo um ABRAÇO a todos os Amigos da Casa, levem o abraço...

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Da janela sul...

lugares de mim...

Voz do Povo

Quem tem esperança, tem paciência...

domingo, 27 de setembro de 2009

Outra janela...

nada acaba para sempre...


Autores

A Última Ceia

Trouxe as palavras e colocou-as sobre a mesa.
Trouxe-as dentro das mãos fechadas (alguns disseram
que apenas escondia as feridas do silêncio).

Pousou-as na mesa e começou a abri-las devagar,
Tão devagar como passa o tempo quando tempo
não passa. E depois distribui-as pelos outros,
multiplicou-se em dedos, em palavras (alguém disse
que chegariam a todos, ultrapassariam os séculos e
teriam a duração do tempo quando o tempo perdura).

Ceou com todos pão que não levedara e o vinho áspero
das videiras magras do monte que os ventos dizimavam.
Quando se ergueu, havia ainda palavras sobre a mesa,
coisas por dizer no resto do pão que alguém deixara,
feridas fundas nas mãos que fechou em silêncio e devagar.

Perto dali uma figueira florescia. À espera.

Maria do Rosário Pedreira
A Casa e o Cheiro dos Livros

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Da janela sul...


Viver é ansiar a felicidade possível e a impossível.

Camilo Castelo Branco

sábado, 19 de setembro de 2009

Outra janela...



As obras-primas devem ter sido geradas por acaso;
a produção voluntária não vai além da mediocridade.



Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Da janela sul...

olhar (te)

Autores

Ver-te é como ter á minha frente todo o tempo
é tudo serem para mim estradas largas
estradas onde passa o sol poente
é o tempo parar e eu próprio duvidar mas sem pensar
se o tempo existe se existiu alguma vez
e nem mesmo meço a devastação do meu passado

Ruy Belo

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

3 de Setembro...



Esta (em particular) é uma semana em que não respiro, sufoco!
Saudades sem medida de quem me faz tanta falta, a Mãe...

Maria P.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Outra janela...

finda (a)gosto

Autores

O Impossível baseia-se no Possível

O mistério nem sempre cresce no desconhecido, porque o desconhecido é muitas vezes só isso: pode crescer no conhecido, quando é o seu terrível espanto. O impossível nem sempre nasce do que se não tem, porque o milagre do futuro se acredita: o impossível quase sempre nasce do que se tem, porque se tem e se espera ainda...

Vergílio Ferreira, in «Estrela Polar»

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

domingo, 23 de agosto de 2009

Da janela sul...

vazante

Aforas...

Eu gosto da manhã, a brisa que beija o rosto,
o mar que murmura, segredo...
O vento que espalha os cabelos,
sentimentos vazantes
com a maré...

Gosto da manhã.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

No Dia Mundial da Fotografia...

grão de rocha...

... porque a vida são pedaços, são momentos
o olhar cativa-os
a fotografia torna-os eternos
momentos...
Maria P.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Autores

SOBRE O SEU RETRATO

Quando a idade fizer de mim o que agora não sou;
E cada ruga me disser onde o arado
Do tempo sulcou; quando o Gelo fluir
Atravessando cada veia e toda a minha cabeça se cobrir de neve:
Quando a morte exibir o seu frio sobre as minhas faces,
E eu, a mim mesmo o meu próprio Retrato procurar,
Não encontrando o que sou, mas o que fui;
Duvidando em qual acreditar, neste ou no meu espelho;
Embora eu mude, este permanecerá o mesmo;
Tal como foi desenhado, reterá a compleição primitiva
E a tez primeira; aqui poderão ainda ver-se
Sangue nas faces e uma Penugem sobre o queixo.
Aqui a testa permanecerá lisa, o olhar intenso,
O Lábio rosado e o cabelo de cor jovem.
Contemplai que fragilidade podemos ver no homem,
Cuja Sombra é menos do que ele propensa à mudança.


Thomas Randolph (1605-1635)
Trad. de Cecília Rego Pinheiro

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Da janela sul...


Invento

Deponho
suponho e descrevo
a pulso
subindo pela fímbria
do despido
Porque nada é verdade
se eu invento
o avesso daquilo que é vestido
Maria Teresa Horta

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Outra janela...



Nada entre nós tem o nome da pressa.
Conhecemo-nos assim, devagar, o cuidado
traçou os seus próprios labirintos. Sobre a pele
é sempre a primeira vez que os gestos acontecem. Porém,
se se abrir uma porta para o verão, vemos as mesmas coisas-
o que fica para além da planície e da falésia; a ilha,
um rebanho, um barco à espera de partir, uma palavra
que nunca escrevemos. Entre nós

o tempo desenha-se assim, devagar.
Daríamos sempre pelo mais pequeno engano.

Maria do Rosário Pedreira
«A Casa e o Cheiro dos Livros»