segunda-feira, 25 de junho de 2012

Leitura da noite passada

A Festa do Silêncio

Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.

Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.

Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.

António Ramos Rosa

sábado, 16 de junho de 2012

Da Janela Norte

eram quase 8 horas...

sábado, 9 de junho de 2012

Porque gosto.

Labirinto ou não Foi Nada

Talvez houvesse uma flor
aberta na tua mão.
Podia ter sido amor,
e foi apenas traição.

É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua ...
Ai de mim, que nem pressinto
a cor dos ombros da Lua!

Talvez houvesse a passagem
de uma estrela no teu rosto.
Era quase uma viagem:
foi apenas um desgosto.

É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua...
Só o fantasma do instinto
na cinza do céu flutua.

Tens agora a mão fechada;
no rosto, nenhum fulgor.
Não foi nada, não foi nada:
podia ter sido amor.

David Mourão-Ferreira

"À Guitarra e à Viola"

sábado, 2 de junho de 2012

desfoques

segunda-feira, 21 de maio de 2012


outro céu, outro ser

sábado, 19 de maio de 2012

Porque Gosto.

Diz-me o teu nome - agora, que perdi
quase tudo, um nome pode ser o princípio
de alguma coisa. Escreve-o na minha mão

com os teus dedos - como as poeiras se
escrevem, irrequietas, nos caminhos e os
lobos mancham o lençol da neve com os
sinais da sua fome. Sopra-mo no ouvido,

como a levares as palavras de um livro para
dentro de outro - assim conquista o vento
o tímpano das grutas e entra o bafo do verão
na casa fria. E, antes de partires, pousa-o

nos meus lábios devagar: é um poema
açucarado que se derrete na boca e arde
como a primeira menta da infância.

Ninguém esquece um corpo que teve
nos braços um segundo - um nome sim.

Maria do Rosário Pedreira

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Outra Janela


breve branco

terça-feira, 1 de maio de 2012

Tempo de Maio


Maio é o tempo da perfeita harmonia.
Trajado de negro, mal rompe a luz
O melro canta uma canção de clara alegria.
Nos campos se abraçam as flores e as cores.

O cuco saúda o verão majestoso com galhardia.
Passou o tempo dos dias ruins, a brisa é doçura.
No bosque as árvores de folhas se vestem
E se foram nuas agora são sebe de verde espessura.

O verão vem chegando e corre sem pressa a água no rio.
Manadas ligeiras nas águas mansas a sede saciam.
Na encosta dos montes se espalha o azul do cabelo da urze.
E frágil e branca se abre a flor do linho silvestre.

A pequena abelha, de fraco poder, carrega em seus pés
Rica colheita oculta em flores. O gado pasta ne erva tenra
Dos verdes prados. Na sua tarefa não há fadiga
A formiga vai e depois vem para logo ir e nunca parar.

Nos bosques a harpa tange melodias, música de paz
Que acalma a tormenta que o lago agitara.
E o barco balouça de velas dormidas
Envolto na bruma da cor das flores do tempo de Maio.

Na seara escondida, e de sol a sol, solta a codorniz
Um canto de energia, como um bardo real.
Esguia e delgada, mui branca e pura, saúda a cascata,
Em murmúrio de prata, a calma serena do arroio que a bebe.

Ligeira e veloz, no céu a andorinha é um dardo negro.
Há música que paira na encosta e no vale, nos montes em volta, a cintilar.
Os frutos do verão já se anunciam em gomo formosos.
Cantam as aves na ramaria e no rio os peixes pulam e saltam.

O vigor dos homens de novo renasce e ao longe a montanha
Mostra sem medo sua glória, altiva e sem mácula.
Da crista ao chão, as árvores do bosque são uma festa
De verde e de folhas; e a planura é um lavor de cores e flores.

Os dias de Maio são de alegria e de espledor,
Quando as donzelas sorriem de orgulho pela sua beleza
E jovens guerreiros se mostram mui hábeis, ágeis e esbeltos.
Os dias de Maio o verão anunciam, o tempo é de paz.

E no céu azul há uma criatura que é ave inocente.
Pequena e frágil, de límpida voz de água clara,
Canta a cotovia maravilhas e contos, em que apenas diz
Que a perfeita harmonia é o tempo de Maio.

Cultura Celta (Irlandês)
Anónimo (séc.IX-X)
Tradução: José Domingos Morais 

sábado, 14 de abril de 2012

Da Janela Norte

formas em formas

sábado, 7 de abril de 2012

Dizem...

Há duas épocas na vida, infância e velhice,
em que a felicidade está numa caixa de bombons.

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 30 de março de 2012

Outra Janela...

lugar perfeito

segunda-feira, 19 de março de 2012

19 de Março

Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis

Bertold Brecht

terça-feira, 13 de março de 2012

quinta-feira, 8 de março de 2012

Para a Mulher

A Mulher Mais Bonita do Mundo

estás tão bonita hoje. quando digo que nasceram
flores novas na terra do jardim, quero dizer
que estás bonita.

entro na casa, entro no quarto, abro o armário,
abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio
de ouro.

entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
se tocasse a pele do teu pescoço.

há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.

estás tão bonita hoje.

os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

estás dentro de algo que está dentro de todas
as coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.

os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

de encontro ao silêncio, dentro do mundo,
estás tão bonita é aquilo que quero dizer.

José Luís Peixoto
«A Casa, a Escuridão»

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Passado Perfeito # 3




despertando disse...

"A tarde é toda um sonho moribundo.
É já odor da cor que amorteceu.
O céu vive no mar: sono profundo.
A asa do rumor no ar adormeceu!"

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Passado Perfeito # 2



mfc disse...
Há sempre uma surpresa a cada curva do caminho!
Fevereiro 13, 2007 3:06 PM

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Passado Perfeito # 1


TINTA PERMANENTE disse...
Onde estará Julieta?...
Fevereiro 09, 2007 3:59 PM


sábado, 4 de fevereiro de 2012

Passado Perfeito # 0




herético disse...
"o castelo encantado da ilusão"?
Fevereiro 05, 2007 5:23 PM

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Leituras

Chegastes à minha vida com o que trazias,
feita de luz e pão e sombra,
eu te esperava,
e é assim que preciso de ti

Pablo Neruda

sábado, 14 de janeiro de 2012

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Leituras

O Mar é Longe, mas Somos Nós o Vento

O mar é longe, mas somos nós o vento;
e a lembrança que tira, até ser ele,
é doutro e mesmo, é ar da tua boca
onde o silêncio pasce e a noite aceita.
Donde estás, que névoa me perturba
mais que não ver os olhos da manhã
com que tu mesma a vês e te convém?
Cabelos, dedos, sal e a longa pele,
onde se escondem a tua vida os dá;
e é com mãos solenes, fugitivas,
que te recolho viva e me concedo
a hora em que as ondas se confundem
e nada é necessário ao pé do mar.

Pedro Tamen

sábado, 17 de dezembro de 2011

domingo, 27 de novembro de 2011

Outra Janela

As palavras são a nossa condenação.
Com palavras se ama, com palavras se odeia.
E, suprema irrisão, ama-se e odeia-se com as mesmas palavras!

Eugénio de Andrade

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Da Janela Sul

depois o azul

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Autores

Não há normas.
Todos os homens são excepções a uma regra que não existe.

Fernando Pessoa
Aforismos e Afins

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Outra Janela

há um céu, há um mar assim

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Autores

Mas que sei eu

Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?
Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono
Nenhum súbito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha
qualquer. Mas eu sei que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha

Ruy Belo

sábado, 29 de outubro de 2011

Outra Janela

azul, verde e areia

domingo, 23 de outubro de 2011

Leituras da tarde...

QUE ISTO SEJA ESQUECIDO

Que isto seja esquecido como uma flor, ou como
fogo de áureo gorjeio que ninguém já relembre...
É bom amigo, o tempo, que nos traz a velhice.
Que isto seja esquecido e para todo o sempre.

E se alguém perguntar, dize - foi esquecido
há muito, muito tempo,
como uma flor, um fogo, uma surda pegada
numa neve esquecido há um tempo imenso...

Sara Teasdale (1884-1933)
Trad. de Cecília Meireles

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Da Janela Sul

quando a tarde desceu...

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

terça-feira, 27 de setembro de 2011

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Palavras de Ruy Belo

Mas que sei eu

Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?
Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono
Nenhum súbito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha
qualquer. Mas eu sei que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha

domingo, 25 de setembro de 2011

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Da Janela Sul

outro voar

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Palavras de: Ana Hatherly

"O desejo é sempre uma forma de violação, o fascínio inclemente do não-acessível."

domingo, 18 de setembro de 2011

Outra Janela

é Setembro

terça-feira, 23 de agosto de 2011

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Leituras

EU ESCREVI UM POEMA TRISTE

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!


Mario Quintana


« A Cor do Invisível»


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Outra Janela

encontros...

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Leituras

Vêm-me aos olhos as palavras
Que ouvi noutras eras
Da tua boca amordacei o beijo
Que hoje me queima de saudades
Perfeito é ser bem sem ser belo
Ser, apenas ser, na harmonia do amor
Ser perfume e cheiro
A tua carícia, o teu desprezo, o meu desejo
Doces malícias da mente
Mas criar, meu bem, vem primeiro.

João Sevivas
"Sons da Noite"

sábado, 30 de julho de 2011

Outra Janela

suavemente rosa

terça-feira, 26 de julho de 2011

Leituras

Som da Linguagem

Por vezes reaprendo
o som inesquecível da linguagem
Há muito desligadas
formam frases instáveis as

palavras
Aos excessos do céu cede o silêncio
as constelações caem vitimadas
pelo eco da fala

Gastão Cruz

sábado, 16 de julho de 2011

Da Janela Sul

É muito difícil conhecer as nossas limitações.
Porque dentro de uma casa não se vê essa casa.

Vergílio Ferreira

quinta-feira, 14 de julho de 2011

quinta-feira, 7 de julho de 2011

terça-feira, 5 de julho de 2011

Leituras

Quanto Mais Amada Mais Desisto

De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.

E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.

Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.

Natália Correia