A Festa do Silêncio
Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.
Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.
Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.
António Ramos Rosa
7 comentários:
quando se consegue viver na delicia nua da inocência aberta, o mundo engana-nos mas deixa-nos mais felizes.
beijinhos Maria Maio
Ramos Rosa sempre
a interrogar-nos
delicia nua...
belo.
beijo
Deliciosamente ingénuo e revolucionário.
Tive oportunidade de conhecer António Ramos Rosa, foi/é um prazer.
Acreditem.
Beijinho a todos*
Como já "opinei" milhões de vezes, António Ramos Rosa e Herberto Hélder são os dois "monstros" da poesia portuguesa! Aliás, este poema demonstra-o...
Só espero que o próximo poema da "casa" seja do outro "monstro".
Enfim, na verdade já não espero nada a não ser da poesia...
Cuotidiano,
de acordo.
A poesia não (me) basta.
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