sábado, 30 de setembro de 2006

((entre parênteses))

Sabem
hoje o mundo escondeu-se na arca
as janelas voaram, estão lá, lá, norte-sul
a porta? nunca houve porta.

o sótão queimou as últimas palhinhas, as do menino
da última gaveta...perdeu-se a chave.

1,2,3! não, porque é sempre o mesmo outra vez
...era uma vez, passado o único tempo real
e aforas?! desabafos tão tolos...
a todos, a todas, a ninguém...ou voz do povo.

pelo mar
pelo jardim
pela praia
pelo campo
pela serra

Ao anoitecer - o choro
Ao entardecer - a saudade.

mitos & milho-rei, são poeiras
mezinhar? não. Porque não acreditas. Não.

Maria P.

sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Pelo mar...

alheada...

Ao anoitecer...

Não deixes que metam o nariz na tua Vida!

Quando falas ou simulas falar de ti próprio e amalgamas passado, presente, futuro, há sempre os que perguntam se o que contaste é verdade ou não. Nunca indagam se vai ser verdade. O que lhes interessa é saber, com a curiosidade dos intriguistas, se o que se passou (ou parece ter-se passado) se passou mesmo contigo. É um erro de gente vulgar. Parasitários ou não, qualquer invenção ou patranha, qualquer «mentir verdadeiro» é acepipe biográfico, é pretexto para te enfileirarem na nulidade biográfica que é a deles próprios e tecerem incansavelmente histórias a teu respeito. Não te deixes seduzir pelo gosto da conversa. Essa pequena gente não merece a mais pequena atenção, nem tu precisas de espectadores para o salutar exercício diário de falar por falar.

(...) Não deixes que metam o nariz na tua vida. Caso contrário, vais ficar cheio de gente, com a sua vida escassamente interessante. O tombo da vida vulgar já foi feito por escritores como Camilo. E tenho a impressão de que, no essencial, a vida vulgar continua a mesma. Desunha-te a escrever (olha que já tens pouco tempo!), mas fá-lo com a discrição e a reserva de quem não se dá às primeiras.
É outro exercício salutar.

Alexandre O'Neill, in «Uma Coisa em Forma de Assim»

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Outra janela...

a desmonte

Na última gaveta...

Estrada de Cintra

Ao entardecer...

Antes de um lugar há o seu nome. E ainda
a viagem até ele, que é um outro lugar
mais descontínuo e inominável.

Lembro-me

do quadriculado verde das colinas,
do sol entretido pelos telhados ao longe,
dos rebanhos empurrados nos carreiros,
de um cão pequeno que se atreveu à estrada.

Íamos ou vínhamos?

Maria do Rosário Pedreira
A Casa e o Cheiro dos Livros

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Da janela norte...


...trilogia...

Ao anoitecer...

O desejo a impele ao encontro do amante
O receio a detém por um momento
Parece a seda de um estandarte
Que ora se abandona ora se furta ao vento

Kalidasa, Índia - séc. V
Trad. de Jorge Sousa Braga

Outra janela...


A Primavera do nosso Outono...

Comentários vossos...


.*.Magia.*. disse...
Trus trus trus...

Posso entrar?
Vim passar aqui a noite!
Posso????

Estou a detestar este Outono, já com cheiros de Inverno, misturados com Verão...

Preciso de guarida nesta Casa de Maio onde mora a minha saudosa Primavera!!!!

Primaveraaaaa Tás aí??????

terça-feira, 26 de setembro de 2006

Pela noite...


caos-a-dois-tons

mitos & milho-rei

Polifemo

É o mais famoso dos Ciclopes, criaturas gigantescas das origens do mundo divino, momento em que surgiram muitos monstros, descendentes da Noite e próximos do Caos primitivo. Tinham um só olho redondo no meio da fronte, kyklos significa «círculo» e ops «olhar».
Há um episódio em que o ciclope figura como personagem pitoresca, trata-se de uma cena poética quase cómica em que o terrível gigante declara o seu amor a uma gentil ninfa marinha, Galateia.
Polifemo, rústico, impulsivo e enamorado é arrastado para o ridículo e patético, domado pela flecha fogosa nas suas atitudes para com a branca Galateia.
Figuras de seres apaixonados, às quais nem os gigantes escapam!

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Outra janela...

...

escreve

direito

por

linhas

tortas

voz do povo

Não há coisa velha, se é dita a seu tempo.

domingo, 24 de setembro de 2006

Da janela sul...

outono-a-mar

Ao anoitecer...

Fumo

Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!

Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...

Florbela Espanca

sábado, 23 de setembro de 2006

Outra janela...

Lá em cima... o pior é a queda.

Ao anoitecer...

Os Convencidos da Vida.

Todos os dias os encontro. Evito-os. Às vezes sou obrigado a escutá-los, a dialogar com eles. Já não me confrangem. Contam-me vitórias. Querem vencer, querem, convencidos, convencer. Vençam lá, à vontade. Sobretudo, vençam sem me chatear. Mas também os aturo por escrito. No livro, no jornal. Romancistas, poetas, ensaístas, críticos (de cinema, meu Deus, de cinema!). Será que voltaram os polígrafos? Voltaram, pois, e em força. Convencidos da vida há-os, afinal, por toda a parte, em todos (e por todos) os meios. Eles estão convictos da sua excelência, da excelência das suas obras e manobras (as obras justificam as manobras), de que podem ser, se ainda não são, os melhores, os mais em vista. Praticam, uns com os outros, nada de genuinamente indecente: apenas um espelhismo lisonjeador. Além de espectadores, o convencido precisa de irmãos-em-convencimento. Isolado, através de quem poderia continuar a convencer-se, a propagar-se?

Alexandre O'Neill, in «Uma Coisa em Forma de Assim»

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Da janela norte...

...andam pedras pelos bosques

A todos...

A CASA DAS FADAS DE IUBHDHÁN

Eu tenho uma casa nas terras do Norte.

A metade de cima é de ouro vermelho
A metade de baixo é feita de prata.

Tem um alpendre de bronze claro
E uma porta lavrada no cobre.

Tem um telhado coberto de penas
Das asas das aves, azuis e amarelas.

São de ouro os seus castiçais
E têm velas de imensa pureza.

No exacto centro da minha casa
Há uma pedra de preço mui alto.

E a tristeza a mim nunca toca
Nem à minha Senhora Rainha.

Os meus criados ainda são jovens
De cabelo aos anéis, loiro e comprido.

Qualquer dos meus homens joga xadrez
E são todos eles bons companheiros.

Senhor ou Senhora que queira entrar
Não há-de achar as portas fechadas

Da minha casa nas terras do Norte.

* Poema de origem Celta (irlandês) séc. XII-XIII, anónimo.
Trad. José Domingos Morais.

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Ao adormecer...

casa-cerrar

Ao anoitecer...

O Verdadeiro Gesto de Amor.

Aquilo que de verdadeiramente significativo podemos dar a alguém é o que nunca demos a outra pessoa, porque nasceu e se inventou por obra do afecto. O gesto mais amoroso deixa de o ser se, mesmo bem sentido, representa a repetição de incontáveis gestos anteriores numa situação semelhante. O amor é a invenção de tudo, uma originalidade inesgotável. Fundamentalmente, uma inocência.

Fernando Namora, in «Jornal sem Data».

Pelo mar...



em

espiral

até

ao

fundo

Aforas

Gosto de pequenos prazeres egoístas. Não gosto de egoístas que sabem dar e não sabem receber.

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Outra janela...

raio no labirinto...

mezinhar...

Tília

Tilia cordada mill; fam. das Tiliáceas

Esta planta é comum em ruas e jardins.Espécie arbórea de casca lisa e cor cinzenta. As folhas são e grandes e arredondadas, em forma de coração. As flores são de cor branco-creme e crescem estreitas e com asas.
A saber: da planta utiliza-se as flores, secas à sombra, e a casca. A infusão das flores tem um efeito sedativo e trata também as constipações e a gripe. A casca esmagada e misturada com água constitui um bom remédio para feridas e queimaduras.

A todos...

Só a Teresa viu...

voz do povo

Em terra de cegos quem tem olho é Rei!

terça-feira, 19 de setembro de 2006

Coisas do sótão...

1 2 3, diz outra vez!

Ó minha amora madura
quem foi que te amadurou?
Foi o sol e a geada
e o calor que ela apanhou.

E o calor que ela apanhou
debaixo da silveirinha;
Ó minha amora madura
minha amora madurinha.

Há silvas que dão amoras
há outras que as não dão
há amores que são leais
e há outros que o não são

Lenga-lenga tradicional.

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

Pela serra...

viajante

mitos & milho-rei

Esfinge

Corpo de leoa, rosto e peito feminimo a sua antiguidade reside na Grécia. Já na época micénica surge nos monumentos fúnebres, tal como as Sereias, associada ao culto da morte. Guardiã do túmulo e fantasma do mundo dos infernos, provoca o terror, perseguidora de homens jovens e virgens.
A imagem mais comum da Esfinge apresenta-a sentada aguardando a presa...outra, diferente, a Esfinge aparece voando e precipita-se sobre um jovem ou tem-no já preso nas suas garras.
Atrai os caminhantes com o seu canto, encanta-os e enfeitiça-os para seu bel-prazer!

domingo, 17 de setembro de 2006

Da janela norte...

pregas do tempo...

Ao anoitecer...

De que serviu ir correr mundo,
arrastar, de cidade em cidade, um amor
que pesava mais do que mil malas; mostrar
a mil homens o teu nome escrito em mil
alfabetos e uma estampa do teu rosto
que eu julgava feliz? De que me serviu

recusar esses mil homens, e os outros mil
que fizeram de tudo para eu parar, mil
vezes me penteando as pregas do vestido
cansado de viagens, ou dizendo o seu nome
tão bonito em mil línguas que eu nunca
entenderia? Porque era apenas atrás de ti

que eu corria o mundo, era com a tua voz
nos meus ouvidos que eu arrastava o fardo
do amor de cidade em cidade, o teu nome
nos meus lábios de cidade em cidade, o teu
rosto nos meus olhos durante toda a viagem,

mas tu partias sempre na véspera de eu chegar.

Maria do Rosário Pedreira
Nenhum Nome Depois

Da janela sul...

Como num dia de Domingo...

... era uma vez

Dois Portos - uma povoação.


Reza a história que em tempos idos, São Pedro e Santo André, embarcados, foram atacados por uma violenta tempestade, sendo cada um conduzido a seu porto. São Pedro figura como a pedra fundamental da Igreja, desta povoação, e Santo André é o protector da irmandade das almas, na mesma terra.
Ora, são precisamente estes os Dois Portos a que os pecadores se devem dirigir para pedirem a salvação das suas almas.

Assim reza a história, eu não dou garantias de nada!

Nota:
Dois Portos, freg. e Conc. de Torres Vedras.

sábado, 16 de setembro de 2006

Ao anoitecer...

sombrio, terrivelmente....

A todos...

A solidão em Perspectiva.

É exactamente porque não há solidão que dizes que há solidão. Imagina que eras o único homem no universo. Imagina que nascias de uma árvore, ou antes, porque eu quero pôr a hipótese de que não há árvores, nem astros, nem nada com que te confrontes: supõe que o universo é só o vazio e que tu nascias no meio desse vazio, sem nada para te confrontares. Como dizeres «eu estou sozinho»? Para pensares em «eu» e em «sozinho» tinhas de pensar em «tu» e em «companhia». Só há solidão «porque» vivemos com os outros...

Vergílio Ferreira, in "Estrela Polar"

Outra janela...

...que atire a primeira pedra.

Aforas

Eu gosto de uma manta de areia, um dia calmo, ao fundo a orquestra toca claves de mar, lá longe o sol é maestro.

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Da janela norte...



en

cru

zi

lha

das...

Ao entardecer...

Floriram por engano as rosas bravas
No inverno: veio o vento desfolhá-las...
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que há pouco me enganavas!

Castelos doidos! Tão cedo caístes!...
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que um momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!

E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos...

Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze - quanta flor! - do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos!

Camilo Pessanha

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

Ao adormecer...

Quantas pontes atravessa a chuva?...

Na última gaveta...

... era uma vez

Vastos horizontes

Terra de lavradores fidalgo, o Ribatejo, mostra-se nas orlas do grande rio peninsular, no bairro, no campo e na charneca, nas arribas. Vinhedo e olivais, choupos e salgueiros, valas fedendo a terra para a irrigação, os tabuleiros das salinas, as searas, as pastagens e a mancha das fruteiras, são os elementos paisagísticos da Lezíria, um encanto para a visão, com as manadas dos touros em pastoreio e os rebanhos que afirmam o Ribatejo como a província mais rica na criação de cavalos e gado bravo.
Um ribatejano imprime sempre ao seu trabalho um carácter próprio, no cantar as suas modas, em dançar no tabuado o seu fandago.
O homem e a paisagem, inspirando-se assim mútuamente, constituem os primeiros planos e os fundos dos grandes quadros regionais desta terra filha do Tejo.

Ao entardecer...

Um beijo suave de Outono...

quarta-feira, 13 de setembro de 2006

Outra janela...




uma passagem...

ruína

Ao anoitecer...

VOZ QUE SE CALA

Amo as pedras, os astros e o luar
Que beija as ervas do atalho escuro,
Amo as águas de anil e o doce olhar
Dos animais, divinamente puro.

Amo a hera que entende a voz do muro
E dos sapos, o brando tilintar
De cristais que se afagam devagar,
E da minha charneca o rosto duro.

Amo todos os sonhos que se calam
De corações que sentem e não falam,
Tudo o que é Infinito e pequenino!

Asa que nos protege a todos nós!
Soluço imenso, eterno, que é a voz
Do nosso grande e mísero Destino!...

Florbela Espanca

Outra janela...



7 diferenças...?

terça-feira, 12 de setembro de 2006