sábado, 31 de maio de 2008

Outra Janela...

e acaba Maio...


Ao amanhecer ...

O TEMPO DE MAIO
Maio é o tempo da perfeita harmonia.
Trajado de negro, mal rompe a luz
O melro canta uma canção de clara alegria.
Nos campos se abraçam as flores e as cores.

O cuco saúda o verão majestoso com galhardia.
Passou o tempo dos dias ruins, a brisa é doçura.
No bosque as árvores de folhas se vestem
E se foram nuas agora são sebe de verde espessura.

O verão vem chegando e corre sem pressa a água no rio.
Manadas ligeiras nas águas mansas a sede saciam.
Na encosta dos montes se espalha o azul do cabelo da urze.
E frágil e branca se abre a flor do linho silvestre.

A pequena abelha, de fraco poder, carrega em seus pés
Rica colheita oculta em flores. O gado pasta ne erva tenra
Dos verdes prados. Na sua tarefa não há fadiga
A formiga vai e depois vem para logo ir e nunca parar.

Nos bosques a harpa tange melodias, música de paz
Que acalma a tormenta que o lago agitara.
E o barco balouça de velas dormidas
Envolto na bruma da cor das flores do tempo de Maio.

Na seara escondida, e de sol a sol, solta a codorniz
Um canto de energia, como um bardo real.
Esguia e delgada, mui branca e pura, saúda a cascata,
Em murmúrio de prata, a calma serena do arroio que a bebe.

Ligeira e veloz, no céu a andorinha é um dardo negro.
Há música que paira na encosta e no vale, nos montes em volta, a cintilar.
Os frutos do verão já se anunciam em gomo formosos.
Cantam as aves na ramaria e no rio os peixes pulam e saltam.

O vigor dos homens de novo renasce e ao longe a montanha
Mostra sem medo sua glória, altiva e sem mácula.
Da crista ao chão, as árvores do bosque são uma festa
De verde e de folhas; e a planura é um lavor de cores e flores.

Os dias de Maio são de alegria e de espledor,
Quando as donzelas sorriem de orgulho pela sua beleza
E jovens guerreiros se mostram mui hábeis, ágeis e esbeltos.
Os dias de Maio o verão anunciam, o tempo é de paz.

E no céu azul há uma criatura que é ave inocente.
Pequena e frágil, de límpida voz de água clara,
Canta a cotovia maravilhas e contos, em que apenas diz
Que a perfeita harmonia é o tempo de Maio.

Cultura Celta (Irlandês)
Anónimo (séc.IX-X)
Tradução: José Domingos Morais

quinta-feira, 29 de maio de 2008

quarta imagem

a casa

Ao anoitecer...

Lutaram corpo a corpo com o frio
Das casas onde nunca ninguém passa,
Sós, em quartos imensos de vazio,
Com um poente em chamas na vidraça.

Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, 28 de maio de 2008

terceira imagem

o barco


Ao entardecer...

Viagem

Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar…
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura…
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.

Miguel Torga

terça-feira, 27 de maio de 2008

segunda imagem

malhas

Ao amanhecer ...

Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda.
Sabendo bem que eras nuvem, depus minha vida em ti.
Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil,
fiquei sem poder chorar, quando caí.


Cecília Meireles

domingo, 25 de maio de 2008

primeira imagem

ave

Ao entardecer...

Em nome do teu nome, invoco o sul do silêncio
e arrimo o corpo ao vagar dos teus dedos.
Depois, deixo que me invadas, poro a poro,
que me cerques, me sacies e que a luz ilícita
dos teus olhos me ajuste ao teu abraço.

Graça Pires
Quando as estevas entraram no poema

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Da janela sul...

adentro


Autores

Praia

Na luz oscilam os múltiplos navios
Caminho ao longo dos oceanos frios

As ondas desenrolam os seus braços
E brancas tombam de bruços

A praia é lis e longa sob o vento
Saturada de espaços e maresia

E para trás fica o murmúrio
Das ondas enroladas como búzios.

Sophia de Mello Breyner

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Outra Janela...

o 3º azul...

1 2 3, diz outra vez!

Adeus, pedrinha da fonte,
Onde me eu ia assentar,
Onde passei muitas noites
E noitinhas de luar.

Adeus pedrinha da fonte,
Onde se assentam pimpões;
Donde se rasgam baetas,
Panos finos e bretões.

Quadras Populares.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Outra Janela...

o 2º azul...

1 2 3, diz outra vez!

Fui beber à clara fonte,
Por baixo da verde murta.
Foi mais por ver os teus olhos,
Que a sede não era muita.


Quadras Populares

terça-feira, 20 de maio de 2008

Outra Janela...

o 1º azul...


1 2 3, diz outra vez!

Entre pedras e pedrinhas
Água deve de nascer:
Menina que vem da fonte,
Dê-me água, quero beber.

Dê-me água, quero beber,
Cantarinho vai quebrado;
Menina, que vem da fonte,
Dê água ao seu namorado.

Quadras Populares.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Desafio - 6 palavras...

A água calma percorria o leito , tocava cada margem de forma meiga...sabia que entre escolhas, entre dualidades, uma parte pode ser ciumenta, outra teimosa. Mas o rumo destas águas frescas era optimista, o fim seria uma foz amiga.

Depois desta breve descrição em 6 palavras convido à valsa os Amigos:

Obrigada.

Tempo de agradecer...

A Casa de Maio não pode deixar de agradecer mais uma vez os mimos/desafios que recebe dos Amigos, pelo gesto que significam.
Assim,agradeço a:
Imagens Perdidas ; O blog da Ka ; O Jardim e a Casa ; sentimento em estado gasoso .



Obrigada.
Nota: O desafio da 6 palavras no post a seguir com a imagem.

domingo, 18 de maio de 2008

No dia dos Museus...

museu
do Lat. museu - Gr. mouseion, templo das Musas
s. m.,
estabelecimento, geralmente público, onde estão reunidas colecções de objectos de arte, de erudição, de ciência, etc. ;
conjunto de objectos de arte ou de qualquer ciência;
fig.,
compilação ou colecção de coisas várias;
miscelânea;
ant.,
templo das Musas;
pequena colina, em Atenas, consagrada às Musas (grafado com inicial maiúscula).
Neste e noutros dias, boa visita, seja qual for o Museu...

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Bom fim-de-semana...

É preciso muito pouco para provocar um sorriso e basta um sorriso para tudo se tornar possível.
G. Cesbron

Deixo um sorriso com cores de Maio...

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Da janela norte...

ecoooooo

voz do povo

Quem ouve e cala, consigo fala.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Outra Janela...

É preciso dar o nome do Amor a todos os sentimentos ternos que temos. Mas nunca saberemos se é mesmo ele.


François Mauriac
in, «Diário de um Homem de Trinta Anos»

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Outra Janela...

o outro lado

Autores

DEPOIS DO BEIJO

«Adormeceste?»
«Não», dizes.

Flores em Maio
Florindo ao meio-dia.

Na relva junto ao lago,
Ao sol,

«Podia fechar os meus olhos
E morrer aqui», dizes.

Miki Rofu (1889-1964)
Trad. de José Alberto Oliveira
in, "Rosa do Mundo"

domingo, 11 de maio de 2008

Da janela sul...

1º tempo ...
2º tempo...
3º tempo...

... do mar de Maio

sábado, 10 de maio de 2008

Tempo de agradecer...

A Casa de Maio agradece mais uma vez a simpatia com que é visitada por todos e premiada por alguns, assim é tempo de agradecer a:
O Cheiro da Ilha que ofereceu dois mimos à Casa, a saber:
Prémio Liberdade Florida e Prémio Honra


Tempo de agradecer, a Palavras em desalinho pelo mimo Campanha de Amizade:


Por fim, tempo de agradecer a aArtmus pelo mimo Blogueiros Que Sabem Comentar, e pelo desafio A Nossa Biografia/Meme em 6 palavras...
Deixo uma imagem e uma frase para este último desafio, que é também o meu obrigada a vós, e claro estes mimos são para todos os Amigos da Casa...



quinta-feira, 8 de maio de 2008

Da janela sul...

afago de fogo


Autores

Quase de nada místico

Não, não deve ser nada este pulsar
de dentro: só um lento desejo
de dançar. E nem deve ter grande
significado este vapor dourado,

e invisível a olhares alheios:
só um pólen a meio, como de abelha
à espera de voar. E não é com certeza
relevante este brilhante aqui:

poeira de diamante que encontrei
pelo verso e por acaso, poema
muito breve e muito raso,
que (aproveitando) trago para ti.

Ana Luísa Amaral
in Às Vezes o Paraíso

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Outra Janela...

no beco dos brincos


1 2 3, diz outra vez!

Mestra mestrinha
Senhora mestre, mestrinha
Casacunha de amores que já deram 4 horas
4 horas está a dar e as meninas a merendar
5 horas a cair e as meninas a sair!


Cantilena tradicional.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Da janela norte...

desabitada, não vazia.

Autores

Tenho uma casa. Uma construção de paredes eléctricas de fábulas. Uma malograda teofania de alguém condenado a perder-se na luz de um deus que jorra da sua própria ausência. Tenho uma casa no que sou externamente divina, involuntariamente incrível, compacta de todos os malefícios naturalmente atribuídos a uma deusa cujo o único milagre é não ser deusa.

Natália Correia
in A Mosca Iluminada

domingo, 4 de maio de 2008

Outra Janela...

nascer da rocha-mãe

No dia da Mãe...

se um dia pudesse segurar o teu rosto dentro das minhas mãos,
a pele do teu rosto a envelhecer, se um dia pudesse tocá-lo
como toco a água de uma nascente, como toco a claridade.

é um segredo que guardarei toda a vida por não saber dizê-lo.
o rosto,
o teu rosto submerso na inocência, mãe.

José Luís Peixoto

sexta-feira, 2 de maio de 2008

quinta-feira, 1 de maio de 2008

voz do povo

Maio pequenino, de flores enfeitadinho.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Outra Janela...

o silêncio...

No dia da dança...

Dança Para Um Poema
Dou-te a minha pele, a minha mão
Hoje sou a terra da criação
Passam rios
No meu corpo
Na minha voz
Navios
E embarcação

Hoje sou a terra onde nasceu
Onde minha tribo nunca morreu
Meus pés irão
Desenhar
O coração
A montanha
E a nação

Mostro minha dança
Vento, canção
Lírios e madeiras
Vinhos e pão
Mostro a ti
Com a minha mão
O amor, o sal
Pedra e paixão

Eu sou o jardim
O solo, o quintal
A dança do milho
A espiga afinal
Um corpo teu
Nele pisas
Inda não vês
Te alimentas
Inda não crês

Sou um continente
Desconhecido
Um salão de dança
A imensidão
A minha pele
A minha mão
Eu vou te dar
Te convidar
Para dançar

Comp. Consuelo de Paula e Rubens Nogueira

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Da janela norte...

na sombra do tempo

voz do povo

Com tempo e esperança, tudo se alcança.

sábado, 26 de abril de 2008

Da janela sul...

Ser à meia-luz


Ao entardecer...

I
Passo a mão pela tua cabeça,
recurvamente, atentamente, e só com dedos brandos,
olhando-a como passa e vendo onde passou.

Quero saber o que tu pensas.

II
O que tu pensas, mas apenas como,
e quando e o porquê, e não
que estejas pensando ou não que a minha mão,
atenta e curvada, passa brandamente.


Quero saber aquilo que nem sabes.

III
Aquilo que nem sabes - como saberias
o que o pensar é antes de pensar-se?


A mão que pousa e vai passar atenta.
O olhar que espera ver passar o gesto.
A tácita lembrança de volver os olhos.
A brisa que sabemos vai soprar tão mansa,
ainda antes, no fremir de pétalas ou folhas,
mas não na expectativa do arrepio prévio.

IV
Por que esperaste, ciente, a pele da minha mão?

Jorge de Sena

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Outra Janela...

Revolução.
Apenas quando somos instruídos pela realidade é que podemos mudá-la.

Bertolt Brecht

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Outra Janela...

à margem da corrente...

Autores

Como Uma Flor Vermelha

À sua passagem a noite é vermelha,
E a vida que temos parece
Exausta, inútil, alheia.

Ninguém sabe onde vai nem onde vem,
Mas o eco dos seus passos
Enche o ar de caminhos e de espaços
E acorda as ruas mortas.

Então o mistério das coisas estremece
E o desconhecido cresce
Como uma flor vermelha.

Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Os Livros...

O Marcador de Livros
Quando começou a ler o poema impresso no pedaço de cartolina, achou aquelas palavras familiares. Sabia que tinha escrito algo parecido, há um ror de anos, nos bons tempos da Revolução de Abril. Os seus olhos fugiram de imediato para o espaço onde estava o nome do autor. Sentiu uma onda de calor a iluminar-lhe o rosto e começou a sorrir de alegria, esquecido que estava na rua. Era mesmo um dos seus poemas...era o seu nome que estava transcrito depois do poema.
Encontrar um poema da sua autoria, num simples marcador de livros que aproveitava para publicitar a existência de um "Café com Letras", do qual nunca ouvira falar, era uma daquelas coisas que estava completamente fora das suas cogitações.
Durante uns breves minutos sentiu-se orgulhoso.

Um Café Com Sabor Diferente
Luís A. Milheiro

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Da janela sul...

entardecer na última linha - o Céu