domingo, 27 de setembro de 2009

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A Última Ceia

Trouxe as palavras e colocou-as sobre a mesa.
Trouxe-as dentro das mãos fechadas (alguns disseram
que apenas escondia as feridas do silêncio).

Pousou-as na mesa e começou a abri-las devagar,
Tão devagar como passa o tempo quando tempo
não passa. E depois distribui-as pelos outros,
multiplicou-se em dedos, em palavras (alguém disse
que chegariam a todos, ultrapassariam os séculos e
teriam a duração do tempo quando o tempo perdura).

Ceou com todos pão que não levedara e o vinho áspero
das videiras magras do monte que os ventos dizimavam.
Quando se ergueu, havia ainda palavras sobre a mesa,
coisas por dizer no resto do pão que alguém deixara,
feridas fundas nas mãos que fechou em silêncio e devagar.

Perto dali uma figueira florescia. À espera.

Maria do Rosário Pedreira
A Casa e o Cheiro dos Livros

2 comentários:

Maria disse...

Gosto da Maria do Rosário Pedreira, que conheci através de ti.
Gosto do teu 'porque sim'.
E gosto de ti...

Beijinho, minha Maria

João Paulo Proença disse...

Maria P.

DE facto já me tinhas falado da Maria do Rosário Pedreira.

O poema é liiiiiiindo

Vou já imprimir

beijo

João