terça-feira, 30 de dezembro de 2008

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Outra Janela...


Não te direi
da névoa em meus olhos
De umas mãos frias da ausência
não te direi

Maria Albertina Mitelo

sábado, 27 de dezembro de 2008

Outra Janela...

Passos

Nas minhas mãos cabe-me o mundo. Em cada palavra que te lanço na linha
turva dos trilhos. No baloiçar dos tempos. Na plenitude das memórias.

Quem és tu? Qual a força dos teus olhos? Sabes a quê?

Pergunto-me vezes sem conta (quem sabe demais) por onde andarei.


Pedro Branco

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Outra Janela...

a casa da montanha

Construíste na montanha a tua casa,
escondida a meia encosta, apartada
da cidade dos homens e distante
de todas as tuas outras casas.

É lá teu refúgio, é lá que guardas
o que mais vale em ti, o que mais prezas:
Farrapos de arco-íris, uns quantos raios
de luz, alguns cheiros da terra, do feno e
dos cavalos. Muitas danças: danças de
animais e homens, sinfonias de corpos, de
nervos e de músculos. Vários sons do ar
e canções de cristal encostadas a
um punhado de palavras plenas de sentidos.
É para aí que vais quando precisas
de fugir do mundo para te encontrares
contigo. Ai te bastas tu e o teu espírito e
o velho bordão de oliveira brava.

Aí te bastas; mas manténs a porta aberta
e muitos presentes preparados. De vez em quando,
lanças os olhos longe no caminho, esperas ouvir
os improváveis passos doutros caminheiros.

Vasco Pontes


sábado, 20 de dezembro de 2008

A Todos...

Aldeia do Sabugueiro

Desejo um FELIZ NATAL, todos os dias...


Maria Pedrógão


sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Outra Janela...

Torga,
O pulsar das montanhas,
sente-se
nas tuas palavras,
cobertas
por pedaços de granito
utilizados para disfarçar a revolta,
e dor e a indignação,
de viveres num país confuso,
quase parado
que finge estar em revolução,
e é, constantemente, adiado...

Luís Alves Milheiro

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Da janela norte...

cuida de mim
não me cures
porque se me curares
deixas de te preocupar comigo
eu
que te afligia
porque se me cuidares
continuas a olhar
por mim
sem fim

Daniel Sant'Iago

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Outra Janela...


Amor como em Casa

Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.

Manuel António Pina

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Silêncios...III

...,

Autores

Dizem, meu amor, que neste inverno os ventos
passarão a mão pela seara e levarão o trigo;
que os dias serão escuros e frios - e tão curtos
que neles não caberá paixão alguma, por pequena
que seja. Contam que punhais de chuva se abaterão
sobre os pomares; e que as árvores crescerão
como feixes de serpentes, procurando ganhar
desesperadamente o céu. E acrescentam que

os pássaros adivinham tudo isto e que por isso
se calam de manhã - ouço-os bater as asas
num aceno triste; partem para o sul, dizem,
se dizem a verdade.

Só a casa ficará de pé a olhar a planície. E
dentro dela os sonhos e as recordações do verão -
retratos dos lugares que nunca visitámos, uma camisa
de linho no espaldar da cadeira, um livro para sempre
interrompido sobre a cama. Ouvíamos uma canção triste
na grafonola velha. Dançaríamos o ano inteiro, disseram
uma noite ao ver-nos atravessar a sombra da lua.
Ignoravam, então, o inverno.

Maria do Rosário Pedreira
A Casa e o Cheiro dos Livros

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Silêncios...II

...,

Autores

Pareço egoísta àqueles que, por um egoísmo absorvente, exigem a dedicação dos outros como um tributo.

Fernando Pessoa

domingo, 7 de dezembro de 2008

Silêncios...I

...,


Autores

O Poeta é um Guardador

o poeta é um guardador

guarda a diferença
guarda da indiferença

no incerto
guarda a certeza da voz

Ana Hatherly

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Outra Janela...


tudo era infinito em teu redor
e a harmonia transbordava no silêncio
profundo da tua voz de espuma

Carlos Frias de Carvalho
«Poema a uma deusa índia»

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Da janela norte...

amanhecia a aldeia...


voz do povo


A casa e o ninho, o mais pequenino...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Outra Janela...

... que comece Dezembro!

Autores

Poema para Iludir a Vida

Tudo na vida está em esquecer o dia que passa.
Não importa que hoje seja qualquer coisa triste,
um cedro, areias, raízes,
ou asa de anjo
caída num paul.
O navio que passou além da barra
já não lembra a barra.
Tu o olhas nas estranhas águas que ele há-de sulcar
e nas estranhas gentes que o esperam em estranhos
[portos.

Hoje corre-te um rio dos olhos
e dos olhos arrancas limos e morcegos.
Ah, mas a tua vitória está em saber que não é hoje
[o fim

e que há certezas, firmes e belas,
que nem os olhos vesgos
podem negar.
Hoje é o dia de amanhã.

Fernando Namora
«Mar de Sargaços»

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Bom fim-de-semana...xl


Um idealista é um homem que, partindo de que uma rosa cheira melhor do que uma couve, deduz que uma sopa de rosas teria também melhor sabor...


Ernest Hemingway



quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Da janela norte...

não são dunas...

Autores

Silêncio, Nostalgia...

Silêncio, nostalgia...
Hora morta, desfolhada,
sem dor, sem alegria,
pelo tempo abandonada.

Luz de Outono, fria, fria...
Hora inútil e sombria
de abandono.
Não sei se é tédio, sono,
silêncio ou nostalgia.

Interminável dia
de indizíveis cansaços,
de funda melancolia.
Sem rumo para os meus passos,
para que servem meus braços,
nesta hora fria, fria?

Fernanda de Castro
«Trinta e Nove Poemas»

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Outra Janela...

foi hoje à tardinha...

Autores

O mistério nem sempre cresce no desconhecido, porque o desconhecido é muitas vezes só isso: pode crescer no conhecido, quando é o seu terrível espanto. O impossível nem sempre nasce do que se não tem, porque o milagre do futuro se acredita: o impossível quase sempre nasce do que se tem, porque se tem e se espera ainda...

Vergílio Ferreira
«Estrela Polar»

domingo, 23 de novembro de 2008

Da janela norte...

entradas no tempo

voz do povo


O tempo é mestre


sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Bom fim-de-semana...

Mesa dos Sonhos

Ao lado do homem vou crescendo

Defendo-me da morte quando dou
Meu corpo ao seu desejo violento
E lhe devoro o corpo lentamente

Mesa dos sonhos no meu corpo vivem
Todas as formas e começam
Todas as vidas
Ao lado do homem vou crescendo

E defendo-me da morte povoando
De novos sonhos a vida

Alexandre O'Neill,


terça-feira, 18 de novembro de 2008

Outra Janela...

entre afectos e afagos, Outono-me...


segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Autores

Acontecer

Aproveitando a nesga do silêncio
sentamo-nos no prado verde-luz
e varremos o céu com os olhos de água.
No entrelaçar dos dedos magoados,
aprisionamos desejos de regressos.
Ofertamos os ombros à neblina
o gosto de gengibre pela boca.

Por vezes acontece um fim de tarde assim-
a sombra do salgueiro a afagar-nos a nuca,
o sono de menino a embalar-nos o colo.

Tão breve, tão breve este sangrar do dia.


Foi no sábado, o "acontecer" deste livro, a Licínia está de parabéns, naturalmente...

A tarde entre Amigos foi belíssima...

domingo, 16 de novembro de 2008

Outra Janela... I

nas eras do meu Outono...

voz do povo


A amizade é o porto da vida.

Da janela sul...

Eu encontro-me sempre perto do mar, só ali as lágrimas são mais salgadas que as do meu rosto...

Um comentário feito aqui:
O Cheiro da Ilha

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Da janela sul...


hoje não há palavras, legenda, título...

Hoje dia 13, vou juntar as vossas palavras: abandonado; solitário; mil palavras; realizações; à deriva; nostalgia; cinzento;belo; fundeado; ...

Autores

Esta noite o vento ceifa os bosques e
uma raiva sacode a terra. Se a voz
do mar chamasse pelas velas, os estreitos
aguardariam um naufrágio. E se dissesses
o meu nome eu morreria de amor.

Devo, por isso, afastar-me de ti - não
por medo de morrer (que é de já não
o ter que tenho medo), mas porque a chuva
que devora as esquinas é a única canção
que se ouve esta noite sobre o teu silêncio.

Maria do Rosário Pedreira
«O Canto do Vento nos Ciprestes »

Da janela norte...

na outra margem, o monte...


terça-feira, 11 de novembro de 2008

... era uma vez

O porquê do "Verão" de S. Martinho

Hoje que é o seu dia, 11 de Novembro.
Conta a lenda que um cavaleiro romano andava a fazer a ronda, viu um velho mendigo cheio de fome e frio, quase sem roupa,e...o dia estava chuvoso e frio - logo - o velhinho estava encharcado. O cavaleiro, de seu nome Martinho, que era bondoso e gostava de ajudar as pessoas mais pobres, ao ver aquele mendigo, ficou cheio de pena e cortou a sua grossa capa ao meio, com a espada.
Depois deu a metade da capa ao mendigo e partiu.
Passado algum tempo a chuva parou e apareceu no céu um lindo Sol.
O "Verão" de S. Martinho.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Outra Janela...

margem de Outono a Oeste...

1 2 3, diz outra vez!

O trigo disse pr`ó centeio:
- Cala-te lá centeio, centeiaço.
Que tu não fazes.
Que tu não fazes.
As funções que eu faço.

O centeio disse pr`ó trigo:
- Cala-te lá trigo espademudo.
Que tu não acodes.
Que tu não acodes.
Ao que eu acudo.

Então a aveia disse:
- Eu sou a aveia magra e feia,
quem me tiver em casa,
não vai para a cama sem ceia!

Cantilena popular.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Da janela norte...

um nada imenso de tudo-frio

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Aforas




é do Outono
é do frio
é do vento
é do Inverno quase a chegar,
esta vontade de bater com a porta?!...
Estas dores.
É mesmo do tempo.

Diz a voz do povo...

domingo, 2 de novembro de 2008

Outra Janela...

bilhete-postal

sábado, 1 de novembro de 2008

Autores

Tenho Saudades do Calor ó Mãe
Tenho saudades do calor ó mãe que me penteias
Ó mãe que me cortas o cabelo — o meu cabelo
Adorna-te muito mais do que os anéis

Dá-me um pouco do teu corpo como herança
Uma porção do teu corpo glorioso — não o que já tenho —
O que em ti já contempla o que os santos vêem nos céus
Dá-me o pão do céu porque morro
Faminto, morro à míngua do alto

Tenho saudades dos caminhos quando me deixas
Em casa. Padeço tanto
Penso tanto
Canto tão alto quando calculo os corpos celestes

Ó infinita ó infinita mãe

Daniel Faria
«Dos Líquidos»

Tempo de agradecer...

A Carla, blogue: Palavras em desalinho e o Eduardo, blogue: À Beira de Água tiveram a gentileza de oferecer este mimo à Casa de Maio, muito obrigada pelo carinho e simpatia que sempre demonstram.
Beijinho aos dois!

Desta vez não vou escolher ninguém em particular, gosto de todos os Amigos da Casa...

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Da janela sul...

tombou, mas linda...

voz do povo...e cousas outras

Não há rosas sem espinhos!

Nem varandas sem cravinhos
pedras nos caminhos
e vento para os moinhos!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Outra Janela...

saber (não) ser só...


Autores

No Entardecer dos Dias de Verão

No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma leve brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...
Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!
Fôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão ...
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida
E nem repararmos para que há sentidos ...
Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque a imperfeição é uma cousa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos,
E deve haver muita cousa
Para termos muito que ver e ouvir ...

Fernando Pessoa
in «O Guardador de Rebanhos»

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Da janela norte...

no limite


Autores

Sentimo-nos deslizar pelo tempo, isto é, podemos pensar que passamos do futuro para o passado, ou do passado para o futuro, mas não há um momento em que possamos dizer ao tempo: «Detém-te! És tão belo...!», como dizia Goethe. O presente não se detém. Não poderíamos imaginar um presente puro; seria nulo. O presente contém sempre uma partícula de passado e uma partícula de futuro, e parece que isso é necessário ao tempo.

Jorge Luís Borges

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Da janela norte...

Lentamente...

Autores

Verso Vão

Onda de sol, verso de ouro,
perífrase vã. Extasiar-me,
antes, por esta fusão,
mistura de brilhos. Ou, ainda
mais íntima, a consciência
extensa como o céu, o corpo de tudo,
semelhança absoluta. Respirar
na quebra da onda. Na água,
uma braçada lenta
até ao limite de mim.

Fiama Hasse Pais Brandão
«Três Rostos - Ecos»

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Outra Janela...

tão perto...

1 2 3, diz outra vez!

O mar enrola na areia
Ninguém sabe o que ele diz
Bate na areia e rebola
Porque se sente feliz

O mar também é casado
O mar também tem mulher
É casado com a areia
Dá-lhe beijos quando quer...

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Da janela sul...

meia-praia


Autores

Vive o instante que passa. Vive-o intensamente até à última gota de sangue. É um instante banal, nada há nele que o distinga de mil outros instantes vividos. E no entanto ele é o único por ser irrepetível e isso o distingue de qualquer outro. Porque nunca mais ele será o mesmo nem tu que o estás vivendo. Absorve-o todo em ti, impregna-te dele e que ele não seja pois em vão no dar-se-te todo a ti. Olha o sol difícil entre as nuvens, respira à profundidade de ti, ouve o vento. Escuta as vozes longínquas de crianças, o ruído de um motor que passa na estrada, o silêncio que isso envolve e que fica. E pensa-te a ti que disso te apercebes, sê vivo aí, pensa-te vivo aí, sente-te aí. E que nada se perca infinitesimalmente no mundo que vives e na pessoa que és. Assim o dom estúpido e miraculoso da vida não será a estupidez maior de o não teres cumprido integralmente, de o teres desperdiçado numa vida que terá fim.

Vergílio Ferreira,
«Conta-Corrente IV»

domingo, 19 de outubro de 2008

Outra Janela...

Noite por Ti Despida

Adulta é a noite onde cresce
o teu corpo azul. A claridade
que se dá em troca dos meus ombros cansados.
Reflexos coloridos. Amei
o amor. Amei-te meu amor sobre ervas
orvalhadas. Não eras tu porém
o fim dessa estrada
sem fim. Canto apenas (enquanto os álamos
amadurecem) a transparência, o caminho.
A noite por ti despida. Lume e perfume
do sol. Íntimo rumor do mundo.

Casimiro de Brito
«Solidão Imperfeita»

sábado, 18 de outubro de 2008

Da janela sul...

breve passeio...


sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Tempo de agradecer...


A Casa de Maio recebeu este mimo o "Prémio Dardos", que muito me honra pela natureza do prémio,e pela consideração que tenho em relação às pessoas que o ofereceram e os seus respectivos blogues, assim obrigada: à Mateso: aArtmus; e à Mena: Menarazzi .

Informações sobre o Prémio Dardos:
- Com o Prémio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.

- Quem recebe o “Prémio Dardos” e o aceita deve seguir algumas regras:
1. - Exibir a distinta imagem;
2. - Linkar o blog pelo qual recebeu o prémio;
3. - Escolher quinze (15) outros blogs a que entregar o Prémio Dardos.

Os 15 que a Casa escolhe são:

Outros ficam por escolher, que também muito me agradam, mas mais oportunidades vão surgir, creio que começou a época dos net-prémios!...:)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Outra Janela...

sob um véu...


Autores

Os Convencidos da Vida.

Todos os dias os encontro. Evito-os. Às vezes sou obrigado a escutá-los, a dialogar com eles. Já não me confrangem. Contam-me vitórias. Querem vencer, querem, convencidos, convencer. Vençam lá, à vontade. Sobretudo, vençam sem me chatear. Mas também os aturo por escrito. No livro, no jornal. Romancistas, poetas, ensaístas, críticos (de cinema, meu Deus, de cinema!). Será que voltaram os polígrafos? Voltaram, pois, e em força. Convencidos da vida há-os, afinal, por toda a parte, em todos (e por todos) os meios. Eles estão convictos da sua excelência, da excelência das suas obras e manobras (as obras justificam as manobras), de que podem ser, se ainda não são, os melhores, os mais em vista. Praticam, uns com os outros, nada de genuinamente indecente: apenas um espelhismo lisonjeador. Além de espectadores, o convencido precisa de irmãos-em-convencimento. Isolado, através de quem poderia continuar a convencer-se, a propagar-se?

Alexandre O'Neill
in «Uma Coisa em Forma de Assim»

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Da janela sul...


O louco, o amoroso e o poeta estão recheados de imaginação...

William Shakespeare
"Sonho de uma Noite de Verão"

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Outra Janela...

telhados de Outubro...


Autores

Torre de Névoa

Subi ao alto, à minha Torre esguia,
Feita de fumo, névoas e luar,
E pus-me, comovida, a conversar
Com os poetas mortos, todo o dia.

Contei-lhes os meus sonhos, a alegria
Dos versos que são meus, do meu sonhar,
E todos os poetas, a chorar,
Responderam-me então: “Que fantasia,

Criança doida e crente! Nós também
Tivemos ilusões, como ninguém,
E tudo nos fugiu, tudo morreu! ...”

Calaram-se os poetas, tristemente ...
E é desde então que eu choro amargamente
Na minha Torre esguia junto ao céu! ...

Florbela Espanca
«Livro de Mágoas»

domingo, 12 de outubro de 2008

Da janela norte...

ameaça

voz do povo

Ao perigo com tento e ao remédio com tempo...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Outra Janela...

bom fim-de-semana...


Autores

MELHOR VINHO…

Por mais raro que seja, ou mais antigo,
Só um vinho é deveras excelente
Aquele que tu bebes, docemente,
Com teu mais velho e silencioso amigo.

Mário Quintana

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Da janela norte...

promessa ao sol

Autores

Quanto Mais Amada Mais Desisto

De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.

E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.

Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.

Natália Correia

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Outra Janela...

sombra à terra


Ao amanhecer ...

A Origem do Mundo

De manhã, apanho as ervas do quintal. A terra,
ainda fresca, sai com as raízes; e mistura-se com
a névoa da madrugada. O mundo, então,
fica ao contrário: o céu, que não vejo, está
por baixo da terra; e as raízes sobem
numa direcção invisível. De dentro
de casa, porém, um cheiro a café chama
por mim: como se alguém me dissesse
que é preciso acordar, uma segunda vez,
para que as raízes cresçam por dentro da
terra e a névoa, dissipando-se, deixe ver o azul.

Nuno Júdice

in: «Meditação sobre Ruínas»

domingo, 5 de outubro de 2008

Da janela sul...

arco ao céu


Autores

Olhar o céu é, nos nossos climas, uma ocasião de viver: instintivamente, voltamos para ele os nossos olhos. O poeta meridional, cheio de imagens e de cores, contempla-o; o burguês trivial, admira-o; pela manhã, abre-se a janela e vai-se ver o céu! É um íntimo sempre presente na nossa vida; o nosso estado depende dele: enevoado, entristece-nos; claro e lúcido, alegra-nos; cheio de nuvens eléctricas, enerva-nos. É no Céu que vemos Deus... E mesmo despovoado de deuses, é ainda para o homem o lugar donde ele tira força, consolação e esperança. A paisagem é feita por ele, a arte imita-o, os poetas cantam-no.

Eça de Queirós
in «O Egipto»

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Da janela norte...

era uma vez um caminho...


Autores

Com Fúria e Raiva

Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras

Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada

De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse

Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra

Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Outra Janela...

era uma vez um nenúfar...


Autores

Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução, alguns dizem que assim é que a natureza compôs as suas espécies.

Machado de Assis
«Histórias sem Data»

domingo, 28 de setembro de 2008

Da janela norte...

era uma vez um bosque...