Um Homem percorre o mundo inteiro em busca daquilo que precisa e volta a casa para encontrá-lo. "George Moore"
quarta-feira, 31 de janeiro de 2007
... era uma vez
Elas na Pintura
Dizem que desde que há mundo, há mulheres - e uma arte especial - a pintura em que Elas são a tela e o pintor.
Nas origens bastava um pedaço de ocre roubado à terra, misturado com a gordura do primeiro animal caçado e eis que surge um perfeito baton de rouge.
Nas cavernas foram encontrados vestígios - pequenas espátulas de osso e boiões de pedra que guardavam cremes (pasta de plantas e animais) - que atestam como Elas se adornavam.
No Egipto o toucador de uma Senhora continha mais instrumentos de maquilhagem que a mesa de um cirurgião na hora de uma grave operação.
Na Grécia e em Roma, Elas banhavam-se em leite para tornar a pele macia, e usavam e abusavam do perfume, colocando brincos em forma de globo, cheios de uma essência, que escorria por um pequeno orifício, gota-a-gota sobre os ombros, num perfumar constante.
Sempre, pois, se pintaram as mulheres, para tornarem mais belo (ou não...) o encanto com que a Natureza as contemplou.
segunda-feira, 29 de janeiro de 2007
Aforas
Não gosto de brinquedos novos.
Passam de moda, ou modas.
Gosto do meu Ursinho, branco, velho, sujo, amarrotado (quantas vezes por mim) mas que está lá...sempre.
Não passa.
domingo, 28 de janeiro de 2007
Ao meditar...
Escrevo o teu nome e um pássaro levanta-se da terra -
sobre o seu voo contariam os teus olhos mil histórias
que eu escutaria com o mesmo silêncio admirado
com que na boca cai um beijo ou a noite atira o amor
para cima das camas. Mas o lápis rola subitamente
sobre a mesa e pára a sepultar as palavras que nunca
te direi - porque o rio não regressa à cidade que primeiro
beijou, nem o navio ruma jamais ao porto que o viu largar.
Maria do Rosário Pedreira
O Canto do Vento nos Ciprestes
sobre o seu voo contariam os teus olhos mil histórias
que eu escutaria com o mesmo silêncio admirado
com que na boca cai um beijo ou a noite atira o amor
para cima das camas. Mas o lápis rola subitamente
sobre a mesa e pára a sepultar as palavras que nunca
te direi - porque o rio não regressa à cidade que primeiro
beijou, nem o navio ruma jamais ao porto que o viu largar.
Maria do Rosário Pedreira
O Canto do Vento nos Ciprestes
sexta-feira, 26 de janeiro de 2007
quinta-feira, 25 de janeiro de 2007
mitos & milho-rei
Volúpia
Deusa dos prazeres, filha de Psiqué e do Amor, presidia às dissoluções. É representada sob a figura de uma bela mulher, de faces encarnadas, olhares lânguidos e atitudes de imodéstia. Está sempre estendida em um leito de flores, e segura na mão uma bola de vidro guarnecida de asas.
Deusa dos prazeres, filha de Psiqué e do Amor, presidia às dissoluções. É representada sob a figura de uma bela mulher, de faces encarnadas, olhares lânguidos e atitudes de imodéstia. Está sempre estendida em um leito de flores, e segura na mão uma bola de vidro guarnecida de asas.
quarta-feira, 24 de janeiro de 2007
Ao meditar...
CAMPO
É de cinza o céu.
As árvores são brancas
e os restolhos queimados
são carvões negros.
Bem seco é o sangue
da fenda do Ocaso.
Enrugou-se
o papel incolor do monte.
A poeira do caminho
esconde-se nos barrancos.
As fontes estão turvas
e quietos os remansos.
Em meio a um cinza-avermelhado
soa o chocalho do rebanho
e o poço materno
terminou a reza.
É de cinza o céu,
as árvores são brancas.
García Lorca
É de cinza o céu.
As árvores são brancas
e os restolhos queimados
são carvões negros.
Bem seco é o sangue
da fenda do Ocaso.
Enrugou-se
o papel incolor do monte.
A poeira do caminho
esconde-se nos barrancos.
As fontes estão turvas
e quietos os remansos.
Em meio a um cinza-avermelhado
soa o chocalho do rebanho
e o poço materno
terminou a reza.
É de cinza o céu,
as árvores são brancas.
García Lorca
terça-feira, 23 de janeiro de 2007
segunda-feira, 22 de janeiro de 2007
domingo, 21 de janeiro de 2007
Ao entardecer...
Antes de chegar
Recolho palavras ao longo
Do caminho de casa.
Guardo-as no bolso
De ganga, destas calças
Já muito gastas.
Observo as expressões,
Declarações, discussões
Dos casais apaixonados,
(Lufadas de ar fresco!),
Beijos engasgados,
Segredos, promessas carnais.
Tudo isto e muito mais
Vai fazendo parte
Do caminho para casa.
Os cheiros florais de Senhoras
Imperiais, domésticas,
Mulheres, flores animais!
Os toques casuais,
Entre seres desconhecidos,
Entendidos
Como ofensas corporais.
Mas, estou quase a chegar,
Coloco a chave e entro
Sem proferir a palavra
“Amor”
Sem procurar-te,
Porque sei
Que de costas esperas,
Apenas que eu sopre
A brisa que arrepia,
Marcando o meu entrar
Na casa dos Sonhos Iguais.
Tiago Galveia
sábado, 20 de janeiro de 2007
1 2 3, diz outra vez!
Amanhã é Domingo
Cantará o pintassilgo
Pintassilgo é dourado
Não tem um burro nem cavalo
Tem uma burrinha cega
Que chega daqui a castela
Castelinha, castelão
Minha avó deu-me pão
a mim e p’ró meu cão
Amanhã é Domingo
Cantará o pintassilgo
Cantilena tradicional.
sexta-feira, 19 de janeiro de 2007
quinta-feira, 18 de janeiro de 2007
quarta-feira, 17 de janeiro de 2007
terça-feira, 16 de janeiro de 2007
segunda-feira, 15 de janeiro de 2007
Ao adormecer...
ENTÃO, NÃO VOLTAREMOS
Então, não voltaremos
A vaguear pela noite tardia,
Embora o coração ainda ame
E a lua ainda brilhe.
Pois a espada sobrevive à bainha
E a alma desgasta o peito,
E o coração tem de respirar
E até o amor de repousar.
Embora a noite fosse feita para amar
E o dia volte cedo demais,
Ainda assim não voltaremos a vaguear
Sob a luz da lua cheia.
Lord George Gordon Byron
Então, não voltaremos
A vaguear pela noite tardia,
Embora o coração ainda ame
E a lua ainda brilhe.
Pois a espada sobrevive à bainha
E a alma desgasta o peito,
E o coração tem de respirar
E até o amor de repousar.
Embora a noite fosse feita para amar
E o dia volte cedo demais,
Ainda assim não voltaremos a vaguear
Sob a luz da lua cheia.
Lord George Gordon Byron
domingo, 14 de janeiro de 2007
... era uma vez
Reza a lenda que em tempos idos, os arbustos Uva-do-monte cobriam a Terra nos sítios onde gnomos e duendes guardavam os seus tesouros, das pessoas que por ali passavam. Outrora, estas pequenas criaturas de barba cinzenta estavam à procura de um lugar onde podiam abrigar-se juntamente com o seu tesouro, mas as pessoas acabavam por encontrá-los.
Gnomos e duendes temiam pelos seus tesouros e então viajavam por toda a Terra a chorarem e a lamentarem-se, até que o arbusto de Uva-do-monte teve pena deles, ofereceu-lhes protecção e também prometeu-lhes que ninguém os iria encontrar. E assim foi, os gnomos todos contentes mudaram-se de armas e bagagens para o seu novo esconderijo; levaram prata, ouro, pedras preciosas e o que não conseguiam carregar, as toupeiras, os lagartos e também os ratos ajudaram a levar.
Depois de tudo estar pronto, esconderam-se todos no bosque nas suas tocas e outros esconderijos. Com a protecção do arbusto Uva-do-monte.
Hoje em dia, acredita-se que os gnomos e duendes ainda estão lá a morar, basta encontrar Uva-do-monte...
sábado, 13 de janeiro de 2007
Ao anoitecer...
Palavras
Há pessoas a quem certas palavras dos outros lhes fazem morrer as próprias na garganta. Não podendo falar sentam-se do lado de cá do mar e olham a outra margem não podendo lá estar embora pudessem.
Eis como os possessos de realidades violentas não podem sentar-se à mesa e discorrer simplesmente o que já seria imenso e excepcional.
Ana Hatherly, in «A Cidade das Palavras»
Há pessoas a quem certas palavras dos outros lhes fazem morrer as próprias na garganta. Não podendo falar sentam-se do lado de cá do mar e olham a outra margem não podendo lá estar embora pudessem.
Eis como os possessos de realidades violentas não podem sentar-se à mesa e discorrer simplesmente o que já seria imenso e excepcional.
Ana Hatherly, in «A Cidade das Palavras»
sexta-feira, 12 de janeiro de 2007
quinta-feira, 11 de janeiro de 2007
Ao anoitecer...
EU PODIA ESCOLHER
Não tinha ideia.
Escolhi a paz.
A verdade e a beleza
deixei-as ir,
e também a sageza e a nostalgia -
até o amor,
que tão embevecido me olhava,
negras nuvens com ele se deslocavam.
Paz, era paz.
E nos recônditos da minha alma
dançavam seres
de que nunca tinha sequer ouvido!
E no céu pendia um outro sol.
Toon Tellegen
Trad. de Fernando Venâncio
Não tinha ideia.
Escolhi a paz.
A verdade e a beleza
deixei-as ir,
e também a sageza e a nostalgia -
até o amor,
que tão embevecido me olhava,
negras nuvens com ele se deslocavam.
Paz, era paz.
E nos recônditos da minha alma
dançavam seres
de que nunca tinha sequer ouvido!
E no céu pendia um outro sol.
Toon Tellegen
Trad. de Fernando Venâncio
quarta-feira, 10 de janeiro de 2007
mitos & milho-rei
Pandora
Na mitologia Greco-Romana...
Primeira mulher modelada por Vulcano e animada por Minerva. Foi mimoseada com graças, talentos, sabedoria, eloquência e qualidades, pelos outros deuses, donde veio o seu nome pan = tudo e dorom = dom .
Júpiter deu-lhe uma caixa dentro da qual se achavam encerrados todos os males e crimes, e recomendou-lhe que a não abrisse. Pandora veio habitar na terra, onde Epimeteu, o primeiro homem, a desposou. Cedendo à curiosidade, Epimeteu* abriu a caixa; os prisioneiros escaparam então, e os males se espalharam por toda a parte.
No fundo só ficou a esperança, porque Pandora, fechando a caixa a tempo, a deteve no seu vôo perdido...
Adenda:
* Deve ler-se Pandora.
Obrigada ao
Luís disse...
Uma pequena correcção: segundo a mitologia grega foi Pandora quem abriu a caixa e não Epimeteu...
Uma pequena correcção: segundo a mitologia grega foi Pandora quem abriu a caixa e não Epimeteu...
"Antes vivia sobre a terra a grei dos humanos a recato dos males, dos difíceis trabalhos, das terríveis doenças que ao homem põe fim; mas a mulher, a grande tampa do jarro alçado, dispersou-os e para os homens tramou tristes pesares.
"Hesíodo, in "Os trabalhos e os dias"
terça-feira, 9 de janeiro de 2007
... era uma vez
A Aferição dos Pesos e Balanças da Cidade de Lisboa (1460-1852)
«A Confraria de Santo Eloy dos ourives de prata por Alvará de D. Afonso V de 7 de Agosto de 1460, obteve o "privilégio da aferição dos pesos e balanças da cidade de Lisboa e seu termo". Privilégio que conservou durante quatro séculos até à data da adopção no nosso país do sistema métrico decimal.»
In Anuário de Pesos e Medidas, Nº 3, Repartição de Pesos e Medidas, 1942.
«A Confraria de Santo Eloy dos ourives de prata por Alvará de D. Afonso V de 7 de Agosto de 1460, obteve o "privilégio da aferição dos pesos e balanças da cidade de Lisboa e seu termo". Privilégio que conservou durante quatro séculos até à data da adopção no nosso país do sistema métrico decimal.»
In Anuário de Pesos e Medidas, Nº 3, Repartição de Pesos e Medidas, 1942.
segunda-feira, 8 de janeiro de 2007
domingo, 7 de janeiro de 2007
... era uma vez
Beira-litoral
O Homem reflecte até certo ponto, a paisagem da região em que nasceu. Não se mantém apenas a nossa província no coração; mas também na pele, nos olhos, no temperamento...no Ser.
O beirão da Beira-litoral é meio campaniço, meio pescador. A proximidade do mar imprimiu-lhe uma feição especial: menos sombrio e mais aventureiro.
A mulher da Beira-litoral - a ovarina, a ilhavense, a tricana - apresenta características que a distinguem das suas irmãs da Beira-alta ou da Beira-baixa.
É mais bonita, mais graciosa, mais picante...mais ondulante.
Mas se as tricanas de Coimbra ou de Aveiro, já não se envolvem no característico xaile das suas avós, nem tairocam a chinelinha na ponta do pé, é sinónimo de progresso, dizem uns, ou perda de tradição ,dizem outros.
Se cada roca tem seu fuso, cada terra tem seu uso...
sábado, 6 de janeiro de 2007
Ao entardecer...
Pudesse Eu
Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!
Sophia de Mello Breyner Andresen
Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!
Sophia de Mello Breyner Andresen
sexta-feira, 5 de janeiro de 2007
Aforas
Solta-se o trinco-salta!
O Mundo é meu... e
mesmo que a Lua grite...
o Sol brilha na meia-noite.
Hoje sim.
quinta-feira, 4 de janeiro de 2007
quarta-feira, 3 de janeiro de 2007
Ao meditar...
Hoje não.
Não encontro a chave da última gaveta,
nem sequer a porta para o sótão.
Hoje não.
A janela a norte - gelou
A janela a sul - uma miragem
Hoje não.
1,2,3 diz outra vez! não sei como,
a voz do povo, um silêncio.
Hoje não.
Pelo jardim - secou
Pelo mar - uma revolta
Hoje não.
A Casa, hoje não...
Maria P.
Não encontro a chave da última gaveta,
nem sequer a porta para o sótão.
Hoje não.
A janela a norte - gelou
A janela a sul - uma miragem
Hoje não.
1,2,3 diz outra vez! não sei como,
a voz do povo, um silêncio.
Hoje não.
Pelo jardim - secou
Pelo mar - uma revolta
Hoje não.
A Casa, hoje não...
Maria P.
terça-feira, 2 de janeiro de 2007
Ao anoitecer...
Dizem, meu amor, que neste inverno os ventos
passarão a mão pela seara e levarão o trigo;
que os dias serão escuros e frios - e tão curtos
que neles não caberá paixão alguma, por pequena
que seja. Contam que punhais de chuva se abaterão
sobre os pomares; e que as árvores crescerão
como feixes de serpentes, procurando ganhar
desesperadamente o céu. E acrescentam que
os pássaros adivinham tudo isto e que por isso
se calam de manhã - ouço-os bater as asas
num aceno triste; partem para o sul, dizem,
se dizem a verdade.
Só a casa ficará de pé a olhar a planície. E
dentro dela os sonhos e as recordações do verão -
retratos dos lugares que nunca visitámos, uma camisa
de linho no espaldar da cadeira, um livro para sempre
interrompido sobre a cama. Ouvíamos uma canção triste
na grafonola velha. Dançaríamos o ano inteiro, disseram
uma noite ao ver-nos atravessar a sombra da lua.
Ignoravam, então, o inverno.
Maria do Rosário Pedreira
A Casa e o Cheiro dos Livros
passarão a mão pela seara e levarão o trigo;
que os dias serão escuros e frios - e tão curtos
que neles não caberá paixão alguma, por pequena
que seja. Contam que punhais de chuva se abaterão
sobre os pomares; e que as árvores crescerão
como feixes de serpentes, procurando ganhar
desesperadamente o céu. E acrescentam que
os pássaros adivinham tudo isto e que por isso
se calam de manhã - ouço-os bater as asas
num aceno triste; partem para o sul, dizem,
se dizem a verdade.
Só a casa ficará de pé a olhar a planície. E
dentro dela os sonhos e as recordações do verão -
retratos dos lugares que nunca visitámos, uma camisa
de linho no espaldar da cadeira, um livro para sempre
interrompido sobre a cama. Ouvíamos uma canção triste
na grafonola velha. Dançaríamos o ano inteiro, disseram
uma noite ao ver-nos atravessar a sombra da lua.
Ignoravam, então, o inverno.
Maria do Rosário Pedreira
A Casa e o Cheiro dos Livros
segunda-feira, 1 de janeiro de 2007
A todos...em 2007!
O Primeiro Dia...
A princípio é simples anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se no silêncio e no borborinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que leva a peito
bebe-se come-se e alguém nos diz bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Depois vem cansaços e o corpo frequeja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso por curto que seja
apagam-se duvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vaza
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Sérgio Godinho
in «Pano Cru, 78»
A princípio é simples anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se no silêncio e no borborinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que leva a peito
bebe-se come-se e alguém nos diz bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Depois vem cansaços e o corpo frequeja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso por curto que seja
apagam-se duvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vaza
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Sérgio Godinho
in «Pano Cru, 78»
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