quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Da janela sul...

tombou, mas linda...

voz do povo...e cousas outras

Não há rosas sem espinhos!

Nem varandas sem cravinhos
pedras nos caminhos
e vento para os moinhos!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Outra Janela...

saber (não) ser só...


Autores

No Entardecer dos Dias de Verão

No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma leve brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...
Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!
Fôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão ...
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida
E nem repararmos para que há sentidos ...
Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque a imperfeição é uma cousa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos,
E deve haver muita cousa
Para termos muito que ver e ouvir ...

Fernando Pessoa
in «O Guardador de Rebanhos»

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Da janela norte...

no limite


Autores

Sentimo-nos deslizar pelo tempo, isto é, podemos pensar que passamos do futuro para o passado, ou do passado para o futuro, mas não há um momento em que possamos dizer ao tempo: «Detém-te! És tão belo...!», como dizia Goethe. O presente não se detém. Não poderíamos imaginar um presente puro; seria nulo. O presente contém sempre uma partícula de passado e uma partícula de futuro, e parece que isso é necessário ao tempo.

Jorge Luís Borges

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Da janela norte...

Lentamente...

Autores

Verso Vão

Onda de sol, verso de ouro,
perífrase vã. Extasiar-me,
antes, por esta fusão,
mistura de brilhos. Ou, ainda
mais íntima, a consciência
extensa como o céu, o corpo de tudo,
semelhança absoluta. Respirar
na quebra da onda. Na água,
uma braçada lenta
até ao limite de mim.

Fiama Hasse Pais Brandão
«Três Rostos - Ecos»

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Outra Janela...

tão perto...

1 2 3, diz outra vez!

O mar enrola na areia
Ninguém sabe o que ele diz
Bate na areia e rebola
Porque se sente feliz

O mar também é casado
O mar também tem mulher
É casado com a areia
Dá-lhe beijos quando quer...

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Da janela sul...

meia-praia


Autores

Vive o instante que passa. Vive-o intensamente até à última gota de sangue. É um instante banal, nada há nele que o distinga de mil outros instantes vividos. E no entanto ele é o único por ser irrepetível e isso o distingue de qualquer outro. Porque nunca mais ele será o mesmo nem tu que o estás vivendo. Absorve-o todo em ti, impregna-te dele e que ele não seja pois em vão no dar-se-te todo a ti. Olha o sol difícil entre as nuvens, respira à profundidade de ti, ouve o vento. Escuta as vozes longínquas de crianças, o ruído de um motor que passa na estrada, o silêncio que isso envolve e que fica. E pensa-te a ti que disso te apercebes, sê vivo aí, pensa-te vivo aí, sente-te aí. E que nada se perca infinitesimalmente no mundo que vives e na pessoa que és. Assim o dom estúpido e miraculoso da vida não será a estupidez maior de o não teres cumprido integralmente, de o teres desperdiçado numa vida que terá fim.

Vergílio Ferreira,
«Conta-Corrente IV»

domingo, 19 de outubro de 2008

Outra Janela...

Noite por Ti Despida

Adulta é a noite onde cresce
o teu corpo azul. A claridade
que se dá em troca dos meus ombros cansados.
Reflexos coloridos. Amei
o amor. Amei-te meu amor sobre ervas
orvalhadas. Não eras tu porém
o fim dessa estrada
sem fim. Canto apenas (enquanto os álamos
amadurecem) a transparência, o caminho.
A noite por ti despida. Lume e perfume
do sol. Íntimo rumor do mundo.

Casimiro de Brito
«Solidão Imperfeita»

sábado, 18 de outubro de 2008

Da janela sul...

breve passeio...


sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Tempo de agradecer...


A Casa de Maio recebeu este mimo o "Prémio Dardos", que muito me honra pela natureza do prémio,e pela consideração que tenho em relação às pessoas que o ofereceram e os seus respectivos blogues, assim obrigada: à Mateso: aArtmus; e à Mena: Menarazzi .

Informações sobre o Prémio Dardos:
- Com o Prémio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.

- Quem recebe o “Prémio Dardos” e o aceita deve seguir algumas regras:
1. - Exibir a distinta imagem;
2. - Linkar o blog pelo qual recebeu o prémio;
3. - Escolher quinze (15) outros blogs a que entregar o Prémio Dardos.

Os 15 que a Casa escolhe são:

Outros ficam por escolher, que também muito me agradam, mas mais oportunidades vão surgir, creio que começou a época dos net-prémios!...:)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Outra Janela...

sob um véu...


Autores

Os Convencidos da Vida.

Todos os dias os encontro. Evito-os. Às vezes sou obrigado a escutá-los, a dialogar com eles. Já não me confrangem. Contam-me vitórias. Querem vencer, querem, convencidos, convencer. Vençam lá, à vontade. Sobretudo, vençam sem me chatear. Mas também os aturo por escrito. No livro, no jornal. Romancistas, poetas, ensaístas, críticos (de cinema, meu Deus, de cinema!). Será que voltaram os polígrafos? Voltaram, pois, e em força. Convencidos da vida há-os, afinal, por toda a parte, em todos (e por todos) os meios. Eles estão convictos da sua excelência, da excelência das suas obras e manobras (as obras justificam as manobras), de que podem ser, se ainda não são, os melhores, os mais em vista. Praticam, uns com os outros, nada de genuinamente indecente: apenas um espelhismo lisonjeador. Além de espectadores, o convencido precisa de irmãos-em-convencimento. Isolado, através de quem poderia continuar a convencer-se, a propagar-se?

Alexandre O'Neill
in «Uma Coisa em Forma de Assim»

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Da janela sul...


O louco, o amoroso e o poeta estão recheados de imaginação...

William Shakespeare
"Sonho de uma Noite de Verão"

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Outra Janela...

telhados de Outubro...


Autores

Torre de Névoa

Subi ao alto, à minha Torre esguia,
Feita de fumo, névoas e luar,
E pus-me, comovida, a conversar
Com os poetas mortos, todo o dia.

Contei-lhes os meus sonhos, a alegria
Dos versos que são meus, do meu sonhar,
E todos os poetas, a chorar,
Responderam-me então: “Que fantasia,

Criança doida e crente! Nós também
Tivemos ilusões, como ninguém,
E tudo nos fugiu, tudo morreu! ...”

Calaram-se os poetas, tristemente ...
E é desde então que eu choro amargamente
Na minha Torre esguia junto ao céu! ...

Florbela Espanca
«Livro de Mágoas»

domingo, 12 de outubro de 2008

Da janela norte...

ameaça

voz do povo

Ao perigo com tento e ao remédio com tempo...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Outra Janela...

bom fim-de-semana...


Autores

MELHOR VINHO…

Por mais raro que seja, ou mais antigo,
Só um vinho é deveras excelente
Aquele que tu bebes, docemente,
Com teu mais velho e silencioso amigo.

Mário Quintana

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Da janela norte...

promessa ao sol

Autores

Quanto Mais Amada Mais Desisto

De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.

E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.

Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.

Natália Correia

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Outra Janela...

sombra à terra


Ao amanhecer ...

A Origem do Mundo

De manhã, apanho as ervas do quintal. A terra,
ainda fresca, sai com as raízes; e mistura-se com
a névoa da madrugada. O mundo, então,
fica ao contrário: o céu, que não vejo, está
por baixo da terra; e as raízes sobem
numa direcção invisível. De dentro
de casa, porém, um cheiro a café chama
por mim: como se alguém me dissesse
que é preciso acordar, uma segunda vez,
para que as raízes cresçam por dentro da
terra e a névoa, dissipando-se, deixe ver o azul.

Nuno Júdice

in: «Meditação sobre Ruínas»

domingo, 5 de outubro de 2008

Da janela sul...

arco ao céu


Autores

Olhar o céu é, nos nossos climas, uma ocasião de viver: instintivamente, voltamos para ele os nossos olhos. O poeta meridional, cheio de imagens e de cores, contempla-o; o burguês trivial, admira-o; pela manhã, abre-se a janela e vai-se ver o céu! É um íntimo sempre presente na nossa vida; o nosso estado depende dele: enevoado, entristece-nos; claro e lúcido, alegra-nos; cheio de nuvens eléctricas, enerva-nos. É no Céu que vemos Deus... E mesmo despovoado de deuses, é ainda para o homem o lugar donde ele tira força, consolação e esperança. A paisagem é feita por ele, a arte imita-o, os poetas cantam-no.

Eça de Queirós
in «O Egipto»

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Da janela norte...

era uma vez um caminho...


Autores

Com Fúria e Raiva

Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras

Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada

De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse

Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra

Sophia de Mello Breyner Andresen