quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Leituras de ontem

Amei-te como na vida se ama uma só vez;

e todos os afetos que dividi depois eram
apenas cinzas que evocavam o brilho dessa
imensa chama. Troquei suspiros e beijos
com muitas outras bocas quando, na minha,
o travo da solidão era uma amarga desculpa
para repartir o pouco que não tinha; mas
em nenhuma quis morder fruto mais
suculento que o silêncio nem permiti que
pousasse sequer o meu nome verdadeiro -
que só nos teus lábios era graça e canção

e eco de loucura. Foi o meu corpo tão vão displicente
naqueles que o cingiram que me faria velha
a tentar recordar-lhes os gestos hesitantes,
as convulsões da pressa e os veios de sal que
descreviam no litoral da pele o aviso de uma
paisagem interior abandonada. Mas de nada

me serviu amar-te assim - pois, ao dizer-te o
que não pude ser longe de ti, digo-te o que sou
e isso há de guardar-te para sempre de voltares.



Maria do Rosário Pedreira

3 comentários:

Luis Eme disse...

o amor é difícil de descrever, pelo menos de uma forma tão bela...

beijinhos Maria Maio

Manuel Veiga disse...

belo poema...

beijo

Fanzine Episódio Cultural disse...

SÓ MAIS UM PASSO

Uma mãe sai às ruas
A enfrentar tiranias
A exigir respeito e liberdade,
Mesmo que tardia.
Cacetetes cobrem-lhe o corpo
Socos e pontapés em seu rosto;
Armas lhe são apontadas
Cuspindo fome e desorganização.

Em seu colo, uma criança,
Assustada, sem futuro,
Sem educação, vazia de esperança;
Vítima de líderes sem pátria.
Destemida a mãe avança contra as tropas
Abrindo brechas, ouvindo ameaças
Enfrentando tanques, abrindo trincheiras.
... Só mais um passo.

(Agamenon Troyan)