que não se rendem à geometria deste mundo;
são como corpos desencontrados da sua arquitectura
ou quartos que os gestos não preenchem.
O meu amor é maior que as palavras; e daí inútil
a agitação dos dedos na intimidade do texto -
a página não ilustra o zelo do farol que agasalha as baías
nem a candura da mão que protege a chama que estremece.
O meu amor não se deixa dizer - é um formigueiro
que acode aos lábios como a urgência de um beijo
ou a matéria efervescente dos segredos; a combustão
laboriosa que evoca, à flor da pele, vestígios
de uma explosão exemplar: a cratera que um corpo,
ao levantar-se, deixa para sempre na vizinhança de outro corpo.
O meu amor anda por dentro do silêncio e formular loucuras
com a nudez do teu nome - é um fantasma que estrebucha
no dédalo das veias e sangra quando o encerram em metáforas.
Um verso que o vestisse definharia sob a roupa
como o esqueleto de uma palavra morta. Nenhum poema
podia ser o chão da sua casa.
Maria do Rosário Pedreira
O Canto do Vento nos Ciprestes
6 comentários:
Este poema lembrou-me Pablo Neruda....
Beijinho
que poderia o amor fazer senão "formular" loucuras?
belo poema!
..."a cratera que um corpo, ao levantar-se, deixa para sempre
na vizinhança de outro corpo".
Assim o poema-amor-ausência se ilumina. Bjinhos
Nenhum amor cabe num poema...
são sempre precisos mais,
tu sabes, eu sei e a Maria do Rosário (será Rosarinho lá em casa?) também...
abraço
acho que não será apenas hoje...
beijo
luísa
*
o meu amor,
sabe a vento . . .
,
j
h
*
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