quinta-feira, 25 de novembro de 2010

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Não me peçam razões...

Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queira: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.

José Saramago
«Os Poemas Possíveis»

5 comentários:

Maria disse...

E como é bom ler Saramago. Hoje com um gosto especial...

Beijinho, minha Maria!

Rosa dos Ventos disse...

Hoje também escolhi um poema de Saramago para ler no meu Clube de Leitura.
Chama-se "Madrigal"...mas este também é lindo!

Abraço

Lídia Borges disse...

Razões para explicar o desconcerto do mundo.

Saramago que pensava não saber escrever Poesia... E sabia, como sabia. Até em prosa!

Um beijo

Luis Eme disse...

não me peçam razões para gostar do Saramago-poeta.

prefiro o ronancista de longe.

beijinhos M. Maria Maio

João P. disse...

Maria P.

Gostei. Falou e disse!

Beijo

João P.