Um Homem percorre o mundo inteiro em busca daquilo que precisa e volta a casa para encontrá-lo. "George Moore"
quarta-feira, 31 de maio de 2006
Ao anoitecer...
Acorda de manhã,
o homem de papel,
de papel branco,
em branco respirar
sonha em caminhar,
o homem de papel,
de papel branco,
vincado de sinais
mas como não tem cor,
o homem de papel,
de papel branco,
marca de branco o ar
Vasco Pontes
Poema roubado no blog Dovoar
terça-feira, 30 de maio de 2006
segunda-feira, 29 de maio de 2006
Comentários vossos...
os velhos diziam
tudo no mundo vivia a falar
os homens, as pedras, o Sol e o luar
os bichos da terra e os peixes do mar.
domingo, 28 de maio de 2006
... era uma vez
Ao amanhecer ...
Ando à procura de espaço
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
projecto-me num abraço
e gero uma despedida.
Se volto sobre o meu passo,
é já distância perdida.
Meu coração, coisa de aço
começa a achar um cansaço
esta procura de espaço
para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida
não me animo a um breve traço:
- saudosa do que não faço,
- do que faço, arrependida.
Cecília Meireles
sábado, 27 de maio de 2006
1 2 3, diz outra vez!
não sobe à janela
porque o bicho mau
carrega com ela.
Se quer alvos ovos
arroz com canela
menina bonita
não sobe à janela
não sobe à varanda
porque lá está posta
uma fita de ganga.
E dentro da panela
uma fita amarela
e dentro do poço
a casca de tremoço
e lá no telhado
um gato molhado
e na chaminé
uma caixa de rapé
e no meio da rua
uma espada nua
e atrás da porta
uma vara torta
e dentro do ninho
um passarinho.
Deixa-o no morno
e dá-lhe pãozinho.
Lenga-lenga tradicional.
sexta-feira, 26 de maio de 2006
Ao anoitecer...
Parecem hoje estremecer, no entanto
e tomar vida, e palpitar, enquanto
com as trémulas mãos lhes solto o fio.
Esta lembra um encontro fugidio;
esta, uma coisa simples: o encanto
dum aperto de mão; mas diz-me tanto
que um dia todo, ao lê-la, choro e rio.
Esta me escreve: «Adoro-te, querida!»
e caí, deslumbrada, a soluçar
como se fosse o fim da minha vida!
Mas esta... A tua fé, no próprio altar,
viste, ó Amor, vilmente escarnecida,
se o que esta diz eu devo acreditar.
Elizabeth Barrett Browning
Trad.: Luiz Cardim
quinta-feira, 25 de maio de 2006
Coisas do sótão...
Pelo campo...
... era uma vez
A Quinta-feira da Ascenção é uma festa religiosa católica, celebra a ascenção de Jesus Cristo ao Céu, depois de ter sido crucificado e de ter ressuscitado.
Assim reza a história: quarenta anos depois da Ressureição, Jesus apareceu pela última vez aos seus discípulos, em Jerusalém, e levou-os ao Monte das Oliveiras.
Depois de lhes ter renovado a promessa do Espírito Santo, ergueu as mãos ao céu e abençoou-os. Nesse instante começou a elevar-se no ar e uma nuvem escondeu-O dos olhos deles. Como os discípulos continuaram a olhar o céu, apareceram-lhe dois anjos a anunciar que Jesus voltaria da mesma forma como o viram elevar-se.
Então os discípulos deixaram o Monte das Oliveiras e regressaram a Jerusalém.
Este dia de Ascenção ocorre quarenta dias depois da Páscoa, e é sempre a uma quinta-feira em que se celebra o Dia da Espiga.
No entanto, por ter tanta ligação com a Natureza, também se associa este dia a tempos mais remotos, talvez de antigas tradições pagãs que celebravam a Festa da Deusa Flora, que acontecia por esta altura e à qual se mantém ligada a tradição dos Maios e das Maias.
terça-feira, 23 de maio de 2006
Ao adormecer...
segredos são palavras que se escrevem
sem letras
emoções descritas
segredos são telas que se pintam
sem tintas
sentimentos em branco
segredos são melodias que se tocam
sem notas
paixão sem sintonia
segredos são beijos que se dão
sem bocas
amor adiado no tempo
2006.
segunda-feira, 22 de maio de 2006
... era uma vez
domingo, 21 de maio de 2006
Ao adormecer...
Fernando Namora, in "Jornal sem Data"
sábado, 20 de maio de 2006
Ao amanhecer ...
o silêncio de um muro de granito onde já não se demora
a luz. Lembro-me sem querer de ti e convoco as memórias
de um quarto antigo para não repetir o que os livros
diriam sempre de outro modo. Contemplo a surda vegetação
da sombra, os pequenos animais à deriva, a noite rasgada
ao meio pelos gumes da lua. Aguardo provavelmente o teu
regresso, embora secretamente. Mas o que acode à janela
é uma impressão luminosa e fria que desfigura o olhar
e dá das coisas apenas metades imperfeitas ou estilhaços
que lembram a arquitectura da poeira sobre as baías.
A sabedoria é um gomo amargo que se consome junto aos
lábios. Ainda que quisesse murmurar o teu nome, como
o sol a morder os pátios de manhã, calo-me para sempre.
Esqueço-me talvez de ti, embora secretamente.
Maria do Rosário Pedreira
A Casa e o Cheiro dos Livros
sexta-feira, 19 de maio de 2006
Gato Pedra

quinta-feira, 18 de maio de 2006
... era uma vez
quarta-feira, 17 de maio de 2006
terça-feira, 16 de maio de 2006
mezinhar...
domingo, 14 de maio de 2006
Coisas do sótão...
mezinhar...
sábado, 13 de maio de 2006
Ao adormecer...
quando é jasmim, e roxa quando é lírio.
Sabe abrir o botão
sem reservar doçuras para si,
ao olhar ou à abelha.
Permite sorridente
que se faça mel com sua alma.
Quanto sabe a flor! Sabe deixar-se
colher por ti, para que tu a leves,
erguida, em teu peito numa noite.
Sabe fingir, quando no dia seguinte
de ti a afastas, que não é a mágoa
por tu a abandonares que a faz murchar.
Quanto sabe a flor! Sabe o silêncio;
e possuindo uns lábios tão formosos
sabe calar o «ai!» e o «não», e ignora
a negativa e o soluço.
Quanto sabe a flor! Sabe entregar-se,
dar, dar tudo o que é seu a quem a quer,
sem pedir mais que isso: que lhe queira.
Sabe, simplesmente sabe, amor.
Pedro Salinas
Trad. de José Bento
sexta-feira, 12 de maio de 2006
... era uma vez
Reza o povo que em tempos idos andava uma pastora na serra a guardar o seu rebanho, enquanto fiava.
A meio do dia - brilhava o Sol - sentia a pastora muita sede, mas não havia água.
Apareceu-lhe então, Nossa Senhora que lhe ordenou:
- Ajoelha-te na rocha e faz um risco nela com o teu fuso.
A pastora assim o fez, e correu água pelo risco feito na rocha, tendo a pastora saciado a sua sede.
A água continuou a correr para sempre, vendo-se uma cova na rocha, onde cai a água, feita pelo joelho da pastora.
Água Santa, pois namorado que desse daquela água com as mãos à namorada, jamais acabaria o amor entre os dois.
Local: Fonte Santa, Calde, Viseu.
Ao amanhecer ...
Há noites que são feitas dos meus braços
E um silêncio comum às violetas.
E há sete luas que são sete traços
De sete noites que nunca foram feitas.
Há noites que levamos à cintura
Como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
Duma espada à bainha dum cometa.
Há noites que nos deixam para trás
Enrolados no nosso desencanto
E cisnes brancos que só são iguais
À mais longínqua onda do seu canto.
Há noites que nos levam para onde
O fantasma de nós fica mais perto;
E é sempre a nossa voz que nos responde
E só o nosso nome estava certo.
Há noites que são lírios e são feras
E a nossa exactidão de rosa vil
Reconcilia no frio das esferas
Os astros que se olham de perfil.
Natália Correia
quarta-feira, 10 de maio de 2006
Na Teia...
1 - Comprar flores à sexta-feira;
2 - Lamber a colher do café;
3 - Coleccionar caixas e caixinhas;
4 - Fazer um doce ao sábado;
5 - Vestir-me de azul nos dias marcantes.
Agora vou tentar apanhar na minha teia os Poetas da casa:
Poesia para quem quiser.
Joãosevivas.
Dovoar.
Tugazombi.
A Nossa Pena.
Peço a vossa atenção Senhores Poetas!
terça-feira, 9 de maio de 2006
No baloiçar da cadeira...
O meu país sabe as amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.
Eugénio de Andrade
segunda-feira, 8 de maio de 2006
... era uma vez

domingo, 7 de maio de 2006
mezinhar...
sábado, 6 de maio de 2006
O cheiro na cozinha...

4 ovos
175 g. de açúcar
Raspa da casca de uma laranja
30 g. de farinha de trigo
35 g. de farinha maisena
1 colher (café) de fermento
75 g. de manteiga
50 g. de amêndoa laminada
2,5 dl. de sumo de laranja
Sumo de 1 limão
Açúcar em pó
Manteiga para untar a forma
cartucho de letras...
Alfred Montapert, in " A Suprema Filosofia do Homem"
sexta-feira, 5 de maio de 2006
... era uma vez

O nome desta que é considerada a rainha das flores vem do latim rosa, e do grego rhodon.
Segundo uma lenda grega, a deusa das flores: Chloris, criou a rosa a partir do corpo de uma ninfa encontrada num bosque. Afrodite deu-lhe a beleza, Dionísio deu-lhe o néctar e Apolo poliu e fez florescer essa flor. Dessas três graças nasceu a flor das flores: a rosa.
Para os romanos, a magia é diferente, diziam que uma bela mulher, chamada Rodanthe, tinha muitos pretendentes, mas não quis se casar com nenhum deles. Desprezados, eles invadiram a casa de Rodanthe com muita violência. A deusa Diana não gostou e transformou a bela mulher em uma flor: a rosa; e os seus pretendentes em espinhos.
quarta-feira, 3 de maio de 2006
mezinhar...
terça-feira, 2 de maio de 2006
reticências...
No baloiçar da cadeira...
não há flores nas jarras, nem velas sobre a mesa,
nem retratos escondidos no fundo das gavetas. Sei
que um poema se escreveria entre nós dois; mas
não comprei o vinho, não mudei os lençóis,
não perfumei o decote do vestido.
Se ouço falar de ti, comove-me o teu nome
(mas nem pensar em suspirá-lo ao teu ouvido);
se me dizem que vens, o corpo é uma fogueira -
estalam-me brasas no peito, desvairadas, e respiro
com a violência de um incêndio; mas parto
antes de saber como seria. Não me perguntes
porque se mata o sol na lâmina dos dias
e o meu mundo continua à tua espera:
houve sempre coisas de esguelha nas paisagens
e amores imperfeitos - Deus tem as mãos grandes.
Maria do Rosário Pedreira
segunda-feira, 1 de maio de 2006
Ao anoitecer...
No baloiçar da cadeira...
Isto vai meus amigos isto vai
um passo atrás são sempre dois em frente
e um povo verdadeiro não se trai
não quer gente mais gente que outra gente
Isto vai meus amigos isto vai
o que é preciso é ter sempre presente
que o presente é um tempo que se vai
e o futuro é o tempo resistente
Depois da tempestade há a bonança
que é verde como a cor que tem a esperança
quando a água de Abril sobre nós cai.
O que é preciso é termos confiança
se fizermos de Maio a nossa lança
isto meus amigos isto vai.
Ary dos Santos