Afasto as cortinas devagar; e, atrás dos vidros, acordo
o silêncio de um muro de granito onde já não se demora
a luz. Lembro-me sem querer de ti e convoco as memórias
de um quarto antigo para não repetir o que os livros
diriam sempre de outro modo. Contemplo a surda vegetação
da sombra, os pequenos animais à deriva, a noite rasgada
ao meio pelos gumes da lua. Aguardo provavelmente o teu
regresso, embora secretamente. Mas o que acode à janela
é uma impressão luminosa e fria que desfigura o olhar
e dá das coisas apenas metades imperfeitas ou estilhaços
que lembram a arquitectura da poeira sobre as baías.
A sabedoria é um gomo amargo que se consome junto aos
lábios. Ainda que quisesse murmurar o teu nome, como
o sol a morder os pátios de manhã, calo-me para sempre.
Esqueço-me talvez de ti, embora secretamente.
Maria do Rosário Pedreira
A Casa e o Cheiro dos Livros
5 comentários:
feliz contemplada , um beijinho
Gostei do texto.
Bom fim-de-semana.
Beijinhos
:
poesia de cunho original
e de mãos limpas no papel
.
boa escolha maria p.
bjo especial
e
bom fim-de-semana
Sorrisos. O meu filho deu-me este livro pelos meus anos. Só o título e a capa já bastam para neles me retratar.Quanto ao conteúdo....uma maravilha!
Beijos grandes amiga
Obrigada João.
Filomena bom domingo.
Porfirio, obrigada e bom domingo
Jasmim eu tenho o gosto muito especial pela poesia da Maria do Rosário Pedreira, identifico-me nas suas palavras. Existe outro livro dela que também me encanta O Canto do Vento nos Ciprestes, deves conhecer.
Um beijinho a todos, amigos.
Enviar um comentário