Guardava alguns silêncios e também as coisas
que não dissera por acaso. Guardava agora também
esses acasos, brancos recados entre as palavras
que lhe sobravam nas gavetas. E ainda assim guardaria
para sempre essas palavras, ou a imagem de lábios a
dizê-las - um rosto ainda sem ser triste lembrando o verão.
Teria aguardado esse verão, o cheiro quente dos morangos
à beira dos dedos. E tê-lo-ia sobretudo guardado,
como guardava agora, sem nunca o ter ouvido, o som
das espigas, na planície, à passagem do vento.
Mas agora só podia aguardar a passagem do tempo
sem palavras; ou um vento de feição, um acaso
que tudo justificasse. E no silêncio em que se ia guardando
buscava apenas um lugar mais sereno para as memórias.
Maria do Rosário Pedreira
A Casa e o Cheiro dos Livros
8 comentários:
Excelente!
Duas vezes excelente!
Beijinhos
Bonitas palavras...gostei!
Sabes que Não a conheço muito bem...apenas um ou outro poema dela e nada mais.
Já vi que vou ter de investigar!!
Beijoca
Sabes uma coisa? Aprendi a gostar desta excelente poetisa, na tua "Casa".
Abraço
não conhecia a poetisa.
vou tentar ler mais...
*
o cheiro quente dos morangos
à beira dos dedos.
*
ji
h
*
BELÍSSIMO!!!
Beijinhos*
um poema muito belo. percorrido de "d(r)esistências"...
Serenamente triste e belo.
"E no silêncio em que se ia guardando buscava apenas um lugar mais sereno para as memórias...
B***
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