quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Ao anoitecer...

Guardava alguns silêncios e também as coisas
que não dissera por acaso. Guardava agora também
esses acasos, brancos recados entre as palavras
que lhe sobravam nas gavetas. E ainda assim guardaria
para sempre essas palavras, ou a imagem de lábios a
dizê-las - um rosto ainda sem ser triste lembrando o verão.

Teria aguardado esse verão, o cheiro quente dos morangos
à beira dos dedos. E tê-lo-ia sobretudo guardado,
como guardava agora, sem nunca o ter ouvido, o som
das espigas, na planície, à passagem do vento.

Mas agora só podia aguardar a passagem do tempo
sem palavras; ou um vento de feição, um acaso
que tudo justificasse. E no silêncio em que se ia guardando
buscava apenas um lugar mais sereno para as memórias.


Maria do Rosário Pedreira
A Casa e o Cheiro dos Livros

8 comentários:

Maria disse...

Excelente!
Duas vezes excelente!

Beijinhos

Ka disse...

Bonitas palavras...gostei!
Sabes que Não a conheço muito bem...apenas um ou outro poema dela e nada mais.

Já vi que vou ter de investigar!!

Beijoca

Luis Eme disse...

Sabes uma coisa? Aprendi a gostar desta excelente poetisa, na tua "Casa".

Abraço

pin gente disse...

não conhecia a poetisa.
vou tentar ler mais...

poetaeusou . . . disse...

*
o cheiro quente dos morangos
à beira dos dedos.
*
ji
h
*

Alexandra disse...

BELÍSSIMO!!!

Beijinhos*

Manuel Veiga disse...

um poema muito belo. percorrido de "d(r)esistências"...

APC disse...

Serenamente triste e belo.

"E no silêncio em que se ia guardando buscava apenas um lugar mais sereno para as memórias...

B***