Dei-te o meu corpo como quem estende
um mapa antes da viagem, para que nele
descobrisses ilhas e paraísos e aí pousasses
os dedos devagar, como fazem as aves
quando encontram o verão. Se me tivesses
tocado, ter-me-ia desmanchado nos teus braços
como uma escarpa pronta a desabar, ou
uma cidade do litoral a definhar nas ondas.
Mas, afinal, foste tu que desenhaste mapas
nas minhas mãos - tristes geografias,
labirintos de razões improváveis, tão curtas
linhas que a minha vida não teve tempo
senão para pressentir-se. Por isso, guardo
dos teus gestos apenas conjecturas, sombras,
muros e regressos - nem sequer feridas
ou ruínas. E, ainda assim, sem eu saber porquê,
as ondas ameaçam o lago dos meus olhos.
Maria do Rosário Pedreira
O Canto do Vento nos Ciprestes
4 comentários:
Acho a foto adequada ao poema da MRP,mas como dou primazia à poesia, não me cansando de reler esse livrinho de onde tiraste o poema, comento aqui a foto, no espaço da poesia.
Belíssimos!
Bom post
Minha querida,
Mil vezes obrigada por este poema.
Belo! Sublime!
Emoções que só as mãos de almas elevadas podem descrever, num acto criativo sem par!
Resto de boa tarde. Beijos
Também não me canso de ler e reler este livrinho fantástico da Maria do Rosário Pedreira.
E é sempre com enorme prazer que publico poemas desta autora.
Bom fim de semana aos dois:)
Olá maria p.,
O poeta visita-te pela porta da poesia. Gosta das outras, já sabes, mas esta é aquela que ele gosta mais de abrir
:)
...beijos
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