sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Ao amanhecer ...

A mulher feliz

Está de pé sobre as brancas dunas. As ondas conduziram-na
e os ventos empurraram-na. Está ali, na perfeição redonda
da oferenda. E como que adormece no esplendor sereno.
Diz luz porque diz agora e és tu e sou eu, num círculo
só. Está embriagada de ar como uma forte lâmpada.

É uma área de equilíbrio, de movimentos flexíveis,
um repouso incendiado, a vitória de uma pedra.
Abrem-se fundas águas e um novo fogo aparece.
Que lentas são as folhas largas e as areias!
Que denso é este corpo, esta lua de argila!

Nua como uma pedra ardente, mais do que uma promessa
fulgurante, a amorosa presença de uma mulher feliz.
Nela dormem os pássaros, dormem os nomes puros.
Agora crepita a noite, as línguas que circulam.
Crescem, crescem os músculos da mais íntima distância.

António Ramos Rosa

3 comentários:

JPD disse...

Belo poema; excelente ilustração.

Aldina Duarte disse...

A beleza impar de Ramos Rosa, neste seu poema em particular, não posso deixar de agradecer, há um bocadinho da Mulher Feliz que também reconheço em mim...

Até sempre

Maria P. disse...

Obrigada JPD, consegue sempre captar estas minhas ligações-desligadas!

Aldina,
aprecio imenso a poesia de Ramos Rosa, e claro neste o referido reconhecer da Mulher Feliz, obrigada pela sua presença.
Até logo.