sábado, 24 de junho de 2006

Ao amanhecer ...

Trocáramos as cartas do começo - alegrias tão
frágeis, mas tão fundas, de quem mal se conhece
e já se ama; todo um inverno, diante das palavras,
o movimento dos pássaros no interior dos olhos,
o lume das estrelas na ponta dos dedos. De um

encontro tão breve é sempre fácil esquecer o que
nunca se viu. E, nessa tarde, enquanto te escutava,
soube que a memória era um espelho partido -

porque ler-te era uma coisa, mas ouvir-te era outra; e
o rosto que espreitara do papel fora eu que o desenhara;
e a assinatura ao fundo da página era o nome de uma
outra vida que eu tecera - como se na tua boca,

nesse tempo, falassem duas vozes desencontradas.

Maria do Rosário Pedreira
Nenhum Nome Depois

6 comentários:

João disse...

um bom romance começa assim

RPM disse...

gostei muito.....

feliz dia para ti Maria P.

beijo

RPM

Maria P. disse...

Obrigada aos dois.
Beijinhos.

Vasco Pontes disse...

olá maria p.
beijos sem palavras.

Besnico di Roma disse...

Não sei porquê, nem vem a propósito, mas apetece-me responder assim…
Lembro-me de uma frase, de uma peça de teatro, cujo autor de momento não me recordo. A peça chama-se “Por Uma Gota de Mel”
No final, ficam dois soldados frente a frente, é a fala de um deles que eu te deixo como resposta:
… e então… morremos assim, sem saber porquê ?....

Maria P. disse...

Olá Vasco,
beijos com amizade.

Caro Besnico, essa frase diz tudo.
Eu não consigo dizer mais...