segunda-feira, 7 de abril de 2008

Autores

Bárbaros

Vinham de longe, arrastados pelos ventos, e escondiam
nas mãos um punhado de areia fina para não esquecerem
o cheiro dos desertos. Subiram à montanha e,
com um ramo quebrado, puseram-se a riscar o contorno
do lago e os caminhos tortuosos das primeiras margens.
A água fascinava-os, como aos cavalos que traziam
alados e sem crinas para chegarem sempre mais cedo.

Nessa noite acamparam no vale. Assaram um veado. Beberam
às mulheres que haveriam de ter. E adormeceram
mais longe do céu.

Sonharam com o fogo para não terem de cortar o trigo.

De manhã, a planície estava ainda mais plana.

Maria do Rosário Pedreira
A Casa e o Cheiro dos Livros

7 comentários:

Maria disse...

Este livro é todo ele tão bonito......
Obrigada por me teres dado a conhecer Maria do Rosário Pedreira.

Beijinho, Maria

Luis Eme disse...

De manhã a limpidez dos campos estendia-se ao céu, azul...

Manuel Veiga disse...

gostei do poema. muito belo...

Maria P. disse...

Maria,
desde 2004 que descobri Maria do Rosário Pedreira, e gosto de a ler...muito.
Beijinho*

Luís M.,
quando o sonho toca o azul-céu...
Beijos*

Herético,
eu também.
Beijinhos*

poetaeusou . . . disse...

*
o vale do deserto
aberto
ao oásis dourado
aguado
mulheres, seu abrigo
afogueadas, como o trigo
,
bj
h,
,
*

Luís Galego disse...

Convocar Maria do Rosário Pedreira é sempre um presente, embora muitas vezes nostálgico.

Maria P. disse...

Poetaeusou,
o teu ponto de vista, tuas palavras.
Beijinhos*

Luís Galego,
depende do nosso estado de alma, digo eu...
Beijinhos*