sábado, 3 de junho de 2006

Ao amanhecer ...

Quero falar-te deste amor, como de um vento
amordaçado na camisa; uma febre de verão
que o mercúrio não acha; um telhado esmagado
pela ideia da chuva. Quero dizer-te

que sobre ele pairaram sempre brumas e nevoeiros
e profecias de temporais maiores, como os que levam
para longe os corpos dos navios. Não há notícias

deste amor; apenas uma intriga, um recado sonâmbulo,
um temor que desmaia as pregas do vestido e um sortilégio
urdido nas paisagens suspensas de um mapa que aperto
na mão sem desdobrar. E há memórias

deste amor? A voz sem as palavras, um livro lido
às escuras, um bilhete cifrado deixado num hotel,
um velho calendário cheio de desencontros? Não,

não há memória deste amor.


Maria do Rosário Pedreira
O Canto do Vento nos Ciprestes

8 comentários:

Cleopatra disse...

A prova de que há memórias é o próprio poema.
Memórias, marcas, cicatrizes e sonhos ainda no ar....

JL disse...

Fantásticas memórias que aqui deixas. Bom fim de semana Maria

Brandybuck disse...

Muito bonito
Bom fim de semana

RPM disse...

o amor puxa tanto.......

puxa mêmo!!!! Virge ' Maria...

um poema muito bonito.

um abraço

RPM

yole disse...

La memoria nos acerca...
Besos españoles.

Maria P. disse...

Muitos sonhos ainda no ar, sim. Um abraço Cleopatra.

Obrigada João, bom fim de semana para ti.

Bom fim de semana José.

É verdade, um abraço para ti RPM.

Sem dúvida Yole. beijos lusos.

Manuel Veiga disse...

memorável, apesar de tudo! dir-se-ia, tal amor...

Maria P. disse...

Herético, penso o amor como algo sempre memorável.

Jorge este é um dos poemas da minha vida.

beijinhos aos dois