Um Homem percorre o mundo inteiro em busca daquilo que precisa e volta a casa para encontrá-lo. "George Moore"
quinta-feira, 31 de maio de 2007
... era uma vez
A Aldeia
Piódão -Terras do Fim do Mundo
Coord. Ana Paula Martins Bernardo
Por cima de muitas das portas da aldeia vêem-se ainda algumas pequenas cruzes, diz-se, para afastar a trovoada. No domingo de Ramos os fiéis levam um ramo de oliveira para benzer e, nas noites de tempestade, fazem com ele uma cruz que é posta em cima das brasas da lareira ou na porta principal, invocando assim a protecção de Santa Bárbara para afastar a trovoada.
Piódão -Terras do Fim do Mundo
Coord. Ana Paula Martins Bernardo
quarta-feira, 30 de maio de 2007
Ao amanhecer ...
Um dia branco
Dai-me um dia branco, um mar de beladona
Um movimento
Inteiro, unido, adormecido
Como um só momento.
Eu quero caminhar como quem dorme
Entre países sem nome que flutuam.
Imagens tão mudas
Que ao olhá-las me pareça
Que fechei os olhos.
Um dia em que se possa não saber.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Dai-me um dia branco, um mar de beladona
Um movimento
Inteiro, unido, adormecido
Como um só momento.
Eu quero caminhar como quem dorme
Entre países sem nome que flutuam.
Imagens tão mudas
Que ao olhá-las me pareça
Que fechei os olhos.
Um dia em que se possa não saber.
Sophia de Mello Breyner Andresen
segunda-feira, 28 de maio de 2007
Ao anoitecer...
I
Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!
Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...
Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...
Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!
Mário Quintana
Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!
Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...
Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...
Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!
Mário Quintana
domingo, 27 de maio de 2007
Ao meditar...
Lugares com Ecos do Passado
Tanto ou mais que as pessoas, os lugares vivem e morrem. Com uma diferença: mesmo se já mortos, os lugares retêm a vida que os animou. No silêncio, sentimos-lhes os ouvidos vigilantes ou o rumor infatigável dos ecos ensurdecidos.
Tanto ou mais que as pessoas, os lugares vivem e morrem. Com uma diferença: mesmo se já mortos, os lugares retêm a vida que os animou. No silêncio, sentimos-lhes os ouvidos vigilantes ou o rumor infatigável dos ecos ensurdecidos.
Fernando Namora
in «Jornal sem Data»
quinta-feira, 24 de maio de 2007
Ao entardecer...
Olho-te e não me vês. A primavera vigia
a floração das malvas e o girassol retribui
os favores da luz. Eu sento-me onde acho
que vai estar a tua sombra. E, como a dor
que persegue a ferida, vejo-te quando passas,
mas vejo-te melhor quando não passas. Tu
não me vês; caminhas na geometria vã de
uma linha sem pontos; às vezes parece que
alguma coisa te detém e viras-te - talvez
então me chames dentro de ti, talvez até
me olhes. Mas não me vês.
Maria do Rosário Pedreira
Nenhum Nome Depois
a floração das malvas e o girassol retribui
os favores da luz. Eu sento-me onde acho
que vai estar a tua sombra. E, como a dor
que persegue a ferida, vejo-te quando passas,
mas vejo-te melhor quando não passas. Tu
não me vês; caminhas na geometria vã de
uma linha sem pontos; às vezes parece que
alguma coisa te detém e viras-te - talvez
então me chames dentro de ti, talvez até
me olhes. Mas não me vês.
Maria do Rosário Pedreira
Nenhum Nome Depois
quarta-feira, 23 de maio de 2007
... era uma vez
Algarve
O pendor natural algarvio, em declive para o mar, recorta-o em três zonas destintas: a serra, os barrocais e o litoral. Cada uma com face própria, com as suas nebulosidades, luminosidades e clima.
O algarvio, seja o Homem da montanha, seja o agricultor dos barrocais, seja o marítimo da costa, morador nas suas casas de cal e faixadas de cores vivas, reflecte um pouco esta variedade de ambientes naturais. Dominados por uma ancestralidade moira que o entristece, de tipo sarraceno, mas diverso do andaluz, é um bom cantador, honra o mar e espelha a beleza da amendoeira em flor.
terça-feira, 22 de maio de 2007
segunda-feira, 21 de maio de 2007
Mimo para a Casa
O arquitecto das palavras Luís Rodrigues, do blog: O Murmúrio das Ondas mimou a Casa de Maio duplamente, como blog que faz pensar e para a eleição de um meme. Tal honra muito agradeço.
- Assim o meme:
Se ensinares, ensina ao mesmo tempo a duvidar daquilo que estás a ensinar.
José Ortega y Gasset
- E agora blogs que me fazem pensar:
Infinito Pessoal
Largo da Memória
Papel de Fantasia
Pontos de Vista
Relógio de Pêndulo
E siga a roda! Quem quiser...
- Assim o meme:
Se ensinares, ensina ao mesmo tempo a duvidar daquilo que estás a ensinar.
José Ortega y Gasset
- E agora blogs que me fazem pensar:
Infinito Pessoal
Largo da Memória
Papel de Fantasia
Pontos de Vista
Relógio de Pêndulo
E siga a roda! Quem quiser...
domingo, 20 de maio de 2007
sábado, 19 de maio de 2007
Ao entardecer...
Os gatos resguardam-se da chuva.
Alguém diz o teu nome à janela,
olhando as aves que partem para o sul.
Há uma memória embaciada de outro outono,
cinzas no pátio,
o cheiro de alguma coisa que morre, mas não dói.
Maria do Rosário Pedreira
A Casa e o Cheiro dos Livros
Alguém diz o teu nome à janela,
olhando as aves que partem para o sul.
Há uma memória embaciada de outro outono,
cinzas no pátio,
o cheiro de alguma coisa que morre, mas não dói.
Maria do Rosário Pedreira
A Casa e o Cheiro dos Livros
quinta-feira, 17 de maio de 2007
... era uma vez
terça-feira, 15 de maio de 2007
segunda-feira, 14 de maio de 2007
domingo, 13 de maio de 2007
Ao meditar...
As casas
As casas habitadas são belas
se parecem ainda uma casa vazia
sem a pretensão de ocupá-las
tornam-se ténues disposições
os sinais da nossa presença:
um livro
a roupa que chegou da lavandaria
por arrumar em cima da cama
o modo como toda a tarde a luz foi
entregue ao seu silêncio.
Em certos dias, nem sabemos porquê
sentimo-nos estranhamente perto
daquelas coisas que buscamos muito
e continuam, no entanto, perdidas
dentro da nossa casa.
José Tolentino Mendonça
As casas habitadas são belas
se parecem ainda uma casa vazia
sem a pretensão de ocupá-las
tornam-se ténues disposições
os sinais da nossa presença:
um livro
a roupa que chegou da lavandaria
por arrumar em cima da cama
o modo como toda a tarde a luz foi
entregue ao seu silêncio.
Em certos dias, nem sabemos porquê
sentimo-nos estranhamente perto
daquelas coisas que buscamos muito
e continuam, no entanto, perdidas
dentro da nossa casa.
José Tolentino Mendonça
sábado, 12 de maio de 2007
Para ti...
Quando o avião aqui chegou
quando o mês de Maio começou
eu olhei para ti
então entendi
foi um sonho mau que já passou
foi um mau bocado que acabou
Tinha esta viola numa mão
uma flor vermelha n'outra mão
tinha um grande amor
marcado pela dor
e quando a fronteira me abraçou
foi esta bagagem que encontrou
Eu vim de longe
de muito longe
o que eu andei p'ra'qui chegar
Eu vou p'ra longe
p'ra muito longe
onde nos vamos encontrar
com o que temos p'ra nos dar
E então olhei à minha volta
vi tanta esperança andar à solta
que não exitei
e os hinos cantei
foram feitos do meu coração
feitos de alegria e de paixão
Quando a nossa festa s'estragou
e o mês de Novembro se vingou
eu olhei p'ra ti
e então entendi
foi um sonho lindo que acabou
houve aqui alguém que se enganou
Tinha esta viola numa mão
coisas começadas noutra mão
tinha um grande amor
marcado pela dor
e quando a espingarda se virou
foi p'ra esta força que apontou
José Mário Branco
Nota:
Na caixa de comentários, graças ao Pedro Branco, está a letra completa, é só ir ver.
Obrigada Pedro.
quinta-feira, 10 de maio de 2007
«Meme»
Mais um desafio, mais um passa-a-bola a circular neste net-mundo, eu recebi a bola do:O Cheiro da Ilha e terei de passar a outros seis jogadores para o jogo do meme* continuar.
Um *meme é um "gen ou gene cultural" que envolve algum conhecimento que passas a outros contemporâneos ou a teus descendentes. Os memes podem ser ideias ou partes de ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autónoma. Simplificando: é um comentário, uma frase, uma ideia que rapidamente é propagada pela Web, usualmente por meio de blogues. O neologismo "memes" foi criado por Richard Dawkins dada a sua semelhança fonética com o termo "genes".
Chega sempre a hora em que não basta apenas protestar: após a filosofia, a acção é indispensável .
Victor Hugo
Agora passo a bola a:
Andando e pensando
O meu mundo
Palavras Previamente Ensaiadas
Pé de meia...
Poetaeusou
Rosa dos Ventos
O jogo está lançado se mais alguém quiser jogar, força!
quarta-feira, 9 de maio de 2007
1 2 3, diz outra vez!
Quem quiser cantar com arte,
Cante a pena que sofrer
A mesma pena o fará
Cantar bem, sem o saber.
Quadra popular.
terça-feira, 8 de maio de 2007
Ao anoitecer...
Descem os socalcos
aureoladas pela luz
andam a luz salpica
como dardos
Malvasia
mourisca
dona branca
formosa
As deusas voltaram à terra
das vides enfeitam os lábios
com os bagos vermelhos
António Borges Coelho
aureoladas pela luz
andam a luz salpica
como dardos
Malvasia
mourisca
dona branca
formosa
As deusas voltaram à terra
das vides enfeitam os lábios
com os bagos vermelhos
António Borges Coelho
segunda-feira, 7 de maio de 2007
domingo, 6 de maio de 2007
... era uma vez
A Aldeia
Ruas estreitas e sinuosas abrem-se aqui e além em recantos diversificados. Solta-se a vista do chão de xisto, quando ao fundo se ouvem as águas da ribeira do Piódão, entrecruzadas pelo chilrear cristalino da passarada.
Piódão - Terras do Fim do Mundo
Ruas estreitas e sinuosas abrem-se aqui e além em recantos diversificados. Solta-se a vista do chão de xisto, quando ao fundo se ouvem as águas da ribeira do Piódão, entrecruzadas pelo chilrear cristalino da passarada.
Esbarra então o olhar, nas paredes escuras do casario, para enfim se elevar pela montanha que domina, até cume quase coberto pelas nuvens.
Piódão - Terras do Fim do Mundo
Coord. Ana Paula Martins Bernardo
quinta-feira, 3 de maio de 2007
Ao anoitecer...
Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.
Manuel António Pina
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.
Manuel António Pina
De novo...

Poetaeusou
ao:
O meu mundo
e ao:
Andando e pensando
Muito obrigada.
quarta-feira, 2 de maio de 2007
terça-feira, 1 de maio de 2007
O TEMPO DE MAIO
Maio é o tempo da perfeita harmonia.
Trajado de negro, mal rompe a luz
O melro canta uma canção de clara alegria.
Nos campos se abraçam as flores e as cores.
O cuco saúda o verão majestoso com galhardia.
Passou o tempo dos dias ruins, a brisa é doçura.
No bosque as árvores de folhas se vestem
E se foram nuas agora são sebe de verde espessura.
O verão vem chegando e corre sem pressa a água no rio.
Manadas ligeiras nas águas mansas a sede saciam.
Na encosta dos montes se espalha o azul do cabelo da urze.
E frágil e branca se abre a flor do linho silvestre.
A pequena abelha, de fraco poder, carrega em seus pés
Rica colheita oculta em flores. O gado pasta ne erva tenra
Dos verdes prados. Na sua tarefa não há fadiga
A formiga vai e depois vem para logo ir e nunca parar.
Nos bosques a harpa tange melodias, música de paz
Que acalma a tormenta que o lago agitara.
E o barco balouça de velas dormidas
Envolto na bruma da cor das flores do tempo de Maio.
Na seara escondida, e de sol a sol, solta a codorniz
Um canto de energia, como um bardo real.
Esguia e delgada, mui branca e pura, saúda a cascata,
Em murmúrio de prata, a calma serena do arroio que a bebe.
Ligeira e veloz, no céu a andorinha é um dardo negro.
Há música que paira na encosta e no vale, nos montes em volta, a cintilar.
Os frutos do verão já se anunciam em gomo formosos.
Cantam as aves na ramaria e no rio os peixes pulam e saltam.
O vigor dos homens de novo renasce e ao longe a montanha
Mostra sem medo sua glória, altiva e sem mácula.
Da crista ao chão, as árvores do bosque são uma festa
De verde e de folhas; e a planura é um lavor de cores e flores.
Os dias de Maio são de alegria e de espledor,
Quando as donzelas sorriem de orgulho pela sua beleza
E jovens guerreiros se mostram mui hábeis, ágeis e esbeltos.
Os dias de Maio o verão anunciam, o tempo é de paz.
E no céu azul há uma criatura que é ave inocente.
Pequena e frágil, de límpida voz de água clara,
Canta a cotovia maravilhas e contos, em que apenas diz
Que a perfeita harmonia é o tempo de Maio.
Cultura celta (Irlandês)
Anónimo (séc.IX-X)
Tradução: José Domingos Morais
Trajado de negro, mal rompe a luz
O melro canta uma canção de clara alegria.
Nos campos se abraçam as flores e as cores.
O cuco saúda o verão majestoso com galhardia.
Passou o tempo dos dias ruins, a brisa é doçura.
No bosque as árvores de folhas se vestem
E se foram nuas agora são sebe de verde espessura.
O verão vem chegando e corre sem pressa a água no rio.
Manadas ligeiras nas águas mansas a sede saciam.
Na encosta dos montes se espalha o azul do cabelo da urze.
E frágil e branca se abre a flor do linho silvestre.
A pequena abelha, de fraco poder, carrega em seus pés
Rica colheita oculta em flores. O gado pasta ne erva tenra
Dos verdes prados. Na sua tarefa não há fadiga
A formiga vai e depois vem para logo ir e nunca parar.
Nos bosques a harpa tange melodias, música de paz
Que acalma a tormenta que o lago agitara.
E o barco balouça de velas dormidas
Envolto na bruma da cor das flores do tempo de Maio.
Na seara escondida, e de sol a sol, solta a codorniz
Um canto de energia, como um bardo real.
Esguia e delgada, mui branca e pura, saúda a cascata,
Em murmúrio de prata, a calma serena do arroio que a bebe.
Ligeira e veloz, no céu a andorinha é um dardo negro.
Há música que paira na encosta e no vale, nos montes em volta, a cintilar.
Os frutos do verão já se anunciam em gomo formosos.
Cantam as aves na ramaria e no rio os peixes pulam e saltam.
O vigor dos homens de novo renasce e ao longe a montanha
Mostra sem medo sua glória, altiva e sem mácula.
Da crista ao chão, as árvores do bosque são uma festa
De verde e de folhas; e a planura é um lavor de cores e flores.
Os dias de Maio são de alegria e de espledor,
Quando as donzelas sorriem de orgulho pela sua beleza
E jovens guerreiros se mostram mui hábeis, ágeis e esbeltos.
Os dias de Maio o verão anunciam, o tempo é de paz.
E no céu azul há uma criatura que é ave inocente.
Pequena e frágil, de límpida voz de água clara,
Canta a cotovia maravilhas e contos, em que apenas diz
Que a perfeita harmonia é o tempo de Maio.
Cultura celta (Irlandês)
Anónimo (séc.IX-X)
Tradução: José Domingos Morais
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