segunda-feira, 4 de junho de 2007

Na última gaveta...

O que essa humanidade de provincia faz, diz, soffre ou gosa - é-lhe indifferente. Não é a ella que vae vêr, se visita os logares que ella habita:o que lá lhe move a curiosidade apressada, é algum monumento, algum panorama - a paizagem, como diz Lord Beaconsfield. Para o estrangeiro, Portugal é Cintra, a Allemanha é o Rheno: até mesmo na ideia de Lord Byron, e de outros depois d'elle, o que estraga a belleza de Lisboa é a presença do lisboeta - como a mim a que me estraga a Allemanha é a presença do prussiano. Positivamente a multidão só reconhece uma sociedade - a de Paris e de Londres.
Mas, dentro em pouco, nem ruinas, nem monumentos haverá dignos de viagem; cada cidade, cada nação, se está esforçando por aniquilar a sua originalidade tradicional (...).
Ed. 1927

22 comentários:

A. Pinto Correia disse...

Gostando de Eça, reconehcendo alguma verdade no que escreveu, não posso deixar de não gostar da introdução dos estrangeirismos no seu discurso. Não falo deste excerto, mas da maior parte dos seus livros.
Curiosamente nunca se retratou a ele mesmo..
Beijos, Maria de Maio

Luis Eme disse...

Para o estrangeiro Portugal já não é apenas Sintra... pelo menos nisso mudámos, desde o grande Eça...

JPD disse...

Na sua geração, Eça terá sido aquele que mais cosmopolitismo cultivou e no entanto, a distância do país foi sempre dramática e dolorosa, embora escamoteada pela violência com que se referia a Portugal.

Um século depois, a sua obra continua plena de actualidade e de clarividância.

Uma delícia!

Bjs

JPD disse...

Foi clarividência que desejei escrever.

mfc disse...

Não há nada melhor que ler um conterrâneo que sabe escrever!

Maria disse...

Bom mesmo foi teres trazido Eça, não o vejo muito referido por aqui...

Beijinhos

Unknown disse...

Enquanto todo mundo espera a cura do mal,
E a loucura finge que isso é normal,
Eu finjo ter paciência...

Beijinhos e Boa SEMANA ;)

carteiro disse...

Ora aqui está um bom texto para reflectir! Muito muda mas muito fica por mudar...
E a última frase parece uma profecia que (infelizmente) parece estar a concretizar-se.

Unknown disse...

Eça é e será sempre bem-vindo!

Susana Pinto disse...

A tradição já não é o que era.Tudo muda até isto.

Bjs.

Victor Nogueira disse...

Olá :-)

Para além de outros, adoro também o Eça de Queirós, oscilando entre a fina ironia e o humor cáustico, bem como a revolução que introduziu na escrita portuguesa. Aprecio Uma Campanha Alegre, que em muitos casos se poderia aplicar ao Portugal de Hoje, bem como as suas cróncas e também as Cartas, assim como o seu poder de evocação, que por vezes quase nos faz ver e viver aquele tempo, como no Egipto, aquando da inauguração do Canal de Suez. E gosto imenso da Relíquia e também do humor das Minas de Salomão, cuja «tradução» transformou o original. Mas o Eça não escreveu só romances que pretendiam retratar a burguesia do seu tempo, sem esquecer a «solidariedade» para com os deserdados da sorte, apesar de por vezes serem «maltratados» nas suas obras, como no Crime do Padre Amaro. Mas Eça, pelo menos enquanto consul em Cuba, escreveu rekatórios políticos bastante interessantes. Dra talvez um diletabte, ou por deitio ou por auto-defesa. E quanto aos estrangeirismos de que fala o Unicus, eles podem constituir uma renovação. Quantos novos termos, por exemplo, foram introduzidis pela generalização da informática? Todos dizemos e-mail e não correio electrónico, link e não ligação ou hiper ligacão, site e não sítio ou página, PC (personal computer) e não CP (computador pessoal), Web e não teia. E qual aq tradução de blog?
Um abraço e continua a visitar-me, se quiseres
Victor Manuel

Victor Nogueira disse...

Ai as gralhas ....

Para além de alguns erros dactilográficos que não impossibilitam a compreenão do meu texto anterior, devo rectificar o seguinte;

Onde está:
«Mas Eça, pelo menos enquanto consul em Cuba, escreveu rekatórios políticos bastante interessantes. Dra talvez um diletabte, ou por deitio ou por auto-defesa. E quanto aos estrangeirismos de que fala o Unicus, eles podem constituir uma renovação. Quantos novos termos, por exemplo, foram introduzidis pela generalização da informática?»
deve estar:
«Mas Eça, pelo menos enquanto consul em Cuba, escreveu relatórios políticos bastante interessantes. Era talvez um diletante, ou por feitio ou por auto-defesa. E quanto aos estrangeirismos de que fala o Unicus, eles podem constituir uma renovação. Quantos novos termos, por exemplo, foram introduzidos pela generalização da informática?

Licínia Quitério disse...

Malgré tout, a magia de Sintra permanece. E tu sabes bem.

Beijo.

-_- disse...

good work

have a nice day ..

mixtu disse...

actual
a globalização e os localismos...
"problemas" actuais

abraço

Ka disse...

Eça de Queiróz sempre tão verdaeiro e contemporâneo nas suas afirmações.

Aliás basta vermos "as Farpas" para ver esta contemporaneadade!

Beijinho

poetaeusou . . . disse...

*
O Riso é a Mais Útil Forma da Crítica
,
in) eça de queirós
*
h
/

mafalda disse...

Eça de Queiroz... sempre!
Um beijo.

mafalda disse...

Eça de Queiroz... sempre!
Um beijo.

A.S. disse...

A actualidade não é, em bom rigor, aquilo que Eça nos descreve, exceptuando Sintra que continua impar na sua beleza, se os incêndios não voltarem!


Um beijo!

Victor Nogueira disse...

Olá

O «teu» Eça deu-me a ideia de duas publicações no meu Kant_O. Vi que passaste por Mafra e arredores, mas convido-te a passar pelos meus dois despretenciosos textos que lá coloquei, embora me pareça - ai esta «memória» - já te tenha dado conhecimento de parte dum deles. E se procurares por Eça, escrevendo no cantinho superior esquerdo, encontrarás por lá, algures, um texto sobre o POVO.
Bjos
Os escritos de Eça e as viagens podem ser outros «amores» na vida de cada um de nós.
VN

Fernando Pinto disse...

Uma bela capa! Gosto dos tons desmaiados...

Abraço,
Fernando Manuel