quinta-feira, 5 de abril de 2007

Ao meditar...

O meu mundo tem estado à tua espera; mas
não há flores nas jarras, nem velas sobre a mesa,
nem retratos escondidos no fundo das gavetas. Sei

que um poema se escreveria entre nós dois; mas
não comprei o vinho, não mudei os lençóis,
não perfumei o decote do vestido.

Se ouço falar de ti, comove-me o teu nome
(mas nem pensar em suspirá-lo ao teu ouvido);
se me dizem que vens, o corpo é uma fogueira -
estalam-me brasas no peito, desvairadas, e respiro
com a violência de um incêndio; mas parto
antes de saber como seria. Não me perguntes

porque se mata o sol na lâmina dos dias
e o meu mundo continua à tua espera:
houve sempre coisas de esguelha nas paisagens
e amores imperfeitos - Deus tem as mãos grandes.

Maria do Rosário Pedreira
O Canto do Vento nos Ciprestes

4 comentários:

mfc disse...

Por todo o lado me cheira a pétalas de rosa.... foi o que me ocorreu ao ler este lindo poema!

poetaeusou . . . disse...

*
ou vontades
esguelhantes
*
j)
*

cuotidiano disse...

Não conhecia - mas é MUITO bom!

Obrigado pela "apresentação"

Beijo

Maria disse...

Muito intenso!
Gostei.

Beijo