segunda-feira, 23 de abril de 2007

O Livro

O sol morria na linha do horizonte. O azul de cima tornava-se mais opaco e o de baixo iluminava-se com os últimos raios. Abria-se uma estrada luminosa, recta, aurifulgente, do navio ao astro decapitado. Amarelecia a espuma e dir-se-ia que algumas ondas se formavam e subiam apenas para receber o derradeiro beijo da luz.
Na primeira classe, ao longo do convés, em cadeiras de lona e de vime, estendiam-se, indolentemente, corpos de gentes afortunadas - um livro entre as mãos ou uma «écharpe» tremulando. E do salão de música saía, vibrava um instante no espaço e apagava-se depois, um trecho de ópera.
Na terceira, constituíam-se grupos, homens e mulheres, cabeças pendidas pela saudade, xailes, rostos de crianças, seios ao léu, numa promiscuidade cigana. «Tomara já chegar! E o futuro? E o futuro? Que irá suceder?».

5 comentários:

bettips disse...

Li "A Selva" com 8 ou 9 anos. Nunca mais esqueci! Sinto-a ainda, quando falam na Amazónia e nos escravos, nos sem terra.

Maria disse...

E o futuro será aquilo que quisermos...

Beijo

Manuel Veiga disse...

somos viajantes em terceira. sem dúvida. mas "havemos de chegar ao fim da estrada..."

bem lembrado Ferreira de Castro!

grato. beijos

poetaeusou . . . disse...

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regredi
vou reler
e a selva
e a terra fria
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j
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Fernando Pinto disse...

É um dos meus escritores favoritos... Lindo!