O sol morria na linha do horizonte. O azul de cima tornava-se mais opaco e o de baixo iluminava-se com os últimos raios. Abria-se uma estrada luminosa, recta, aurifulgente, do navio ao astro decapitado. Amarelecia a espuma e dir-se-ia que algumas ondas se formavam e subiam apenas para receber o derradeiro beijo da luz.
Na primeira classe, ao longo do convés, em cadeiras de lona e de vime, estendiam-se, indolentemente, corpos de gentes afortunadas - um livro entre as mãos ou uma «écharpe» tremulando. E do salão de música saía, vibrava um instante no espaço e apagava-se depois, um trecho de ópera.
Na terceira, constituíam-se grupos, homens e mulheres, cabeças pendidas pela saudade, xailes, rostos de crianças, seios ao léu, numa promiscuidade cigana. «Tomara já chegar! E o futuro? E o futuro? Que irá suceder?».
5 comentários:
Li "A Selva" com 8 ou 9 anos. Nunca mais esqueci! Sinto-a ainda, quando falam na Amazónia e nos escravos, nos sem terra.
E o futuro será aquilo que quisermos...
Beijo
somos viajantes em terceira. sem dúvida. mas "havemos de chegar ao fim da estrada..."
bem lembrado Ferreira de Castro!
grato. beijos
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regredi
vou reler
e a selva
e a terra fria
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j
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É um dos meus escritores favoritos... Lindo!
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