sábado, 5 de agosto de 2006

Ao amanhecer ...

Já só consigo saber de ti pelos
jornais: os amigos saltam o teu
nome nas conversas e partem
sempre mais cedo se pergunto.
Mas eu não esqueço. Recorto

uma coluna, duas, meia página,
um título que, se não erro, até
vai bem contigo; as cartas que

te escrevem - quase todas de
homens e azedas; alguma coisa
que disseste, entre aspas, e que
é a tua voz a murmurar no meu

ouvido; e também um retrato
que não te faz justiça - e outro,
mais bonito, perdido ao canto
da folha que já nem viro. Sem que

se saiba, colo num caderno só meu
essa vida onde já não me quiseste,
talvez por ser maior, a vida ou eu.

Nem aos amigos conto como te
sigo: haviam de dizer-me que perco
os melhores anos à tua espera para
um dia encontrar o teu nome por
baixo de uma cruz e nada me sobrar
então para recortar, para recordar.

Maria do Rosário Pedreira
Nenhum Nome Depois

4 comentários:

Licínia Quitério disse...

Ah, Maria. Que coisas se dizem por aqui...
Beijinhos.
Licínia

Maria P. disse...

Escrevi uma história para ti, no teu Sítio
beijinho.

isabel disse...

Lindo amanhecer!

Beijocas

Maria P. disse...

Obrigada Isa, bom fim de semana.