sábado, 23 de setembro de 2006

Ao anoitecer...

Os Convencidos da Vida.

Todos os dias os encontro. Evito-os. Às vezes sou obrigado a escutá-los, a dialogar com eles. Já não me confrangem. Contam-me vitórias. Querem vencer, querem, convencidos, convencer. Vençam lá, à vontade. Sobretudo, vençam sem me chatear. Mas também os aturo por escrito. No livro, no jornal. Romancistas, poetas, ensaístas, críticos (de cinema, meu Deus, de cinema!). Será que voltaram os polígrafos? Voltaram, pois, e em força. Convencidos da vida há-os, afinal, por toda a parte, em todos (e por todos) os meios. Eles estão convictos da sua excelência, da excelência das suas obras e manobras (as obras justificam as manobras), de que podem ser, se ainda não são, os melhores, os mais em vista. Praticam, uns com os outros, nada de genuinamente indecente: apenas um espelhismo lisonjeador. Além de espectadores, o convencido precisa de irmãos-em-convencimento. Isolado, através de quem poderia continuar a convencer-se, a propagar-se?

Alexandre O'Neill, in «Uma Coisa em Forma de Assim»

8 comentários:

Anónimo disse...

Olá, passo para deixar "ao anoitecer" os meus cumprimentos de bom fim de semana...

Fábio disse...

Brilhante, o sr o'neill, fantástico, fantástico..
Apetece aplaudir

Diafragma disse...

Uma delícia este texto. E como ele é intemporal.

Teresa Durães disse...

intemporal e com destinatário????

vou fazer um link lá no voando, ai vou!!!!

Teresa Durães disse...

já coloquei o link

Boa noite ou até logo!!

Manuel Veiga disse...

que pessoas assim, "que nunca levaram porrada"!... uns felizardos!

Maria P. disse...

Um texto para meditar sem dúvida...

Maria P. disse...

Olá Angi, bem-vinda a esta casa.

Essas ilegalidades penso que tem perdão:)