quinta-feira, 7 de setembro de 2006

Ao anoitecer...

Se partires, não me abraces - a falésia que se encosta
uma vez ao ombro do mar quer ser barco para sempre
e sonha com viagens na pele salgada das ondas.

Quando me abraças, pulsa nas minhas veias a convulsão
das marés e uma canção desprende-se da espiral dos búzios;
mas o meu sorriso tem o tamanho do medo de te perder,
porque o ar que respiras junto de mim é como um vento
a corrigir a rota do navio. Se partires, não me abraces -

o teu perfume preso à minha roupa é um lento veneno
nos dias sem ninguém - longe de ti, o corpo não faz
senão enumerar as próprias feridas (como a falésia conta
as embarcações perdidas nos gritos do mar); e o rosto
espia os espelhos à espera de que a dor desapareça.

Se me abraçares, não partas.

Maria do Rosário Pedreira
O Canto do Vento nos Ciprestes

7 comentários:

Teresa Durães disse...

o poema é lindíssimo

fiquei para aqui em suspiros :(

só falta a quem o entregar ahahahah

boa noite!

Maria P. disse...

Não falta não!!

Teresa Durães disse...

qual 13???

Luís disse...

Mais uma excelente amostra do talento e sensiblidade de maria do Rosário Pedreira. Obrigado por a partilhares connosco.

Manuel Veiga disse...

"não partas, abraça-me!" parece (des)dizer...

muito bem. gostei muito...

Clotilde S. disse...

Anoitecer na dúvida...na dor da ausência que já se anuncia... bonito mas triste.

Beijos grandes Maria!
C.

Maria P. disse...

Maria do Rosário Pedreira, a minha autora de poesia preferida.

Beijinhos para vós